Apesar de corresponder a 14% da população, grupo com com idade entre 16 e 24 anos representa apenas 1,5% dos filiados no país
Alexandre Veiga e Letícia Arsenio, de 21 e 24 anos, tomaram a iniciativa de se filiar a partidos políticos . Ele ingressou no PDT em agosto e ela faz parte do Novo desde dezembro do ano passado. Em lados opostos do espectro político, eles representam um grupo cada vez mais raro na maioria das siglas brasileiras: o jovem . Levantamento do GLOBO, a partir de estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revela que hoje as 32 legendas registradas no país têm a menor participação de filiados com idade entre 16 e 24 anos desde 2008 — primeiro ano com dados públicos disponíveis.
Em agosto de 2008, os filiados nessa faixa etária somavam 658,1 mil e representavam 5,2% dos brasileiros que integravam algum partido naquele ano. Em agosto de 2019, esse número caiu para 247,8 mil — o equivalente a 1,5% dos 16,8 milhões de filiados no Brasil.
Nos últimos anos, só não houve queda na participação de jovens nos partidos em 2012 e 2016, quando foram feitas eleições municipais. Em números absolutos, a redução de filiados mais jovens é de 20% em relação ao ano passado e chega a 62% na comparação com 2008. Por outro lado, no quadro geral, a filiação a legendas cresceu no país.
Para Alexandre, o desinteresse dos mais jovens pode ter relação com a desconfiança ética com as siglas.
— Os partidos são feitos por pessoas e, como todos nós, elas podem ter as suas contradições. Isso não quer dizer que a política partidária deva ser anulada — diz o estudante de Cinema, que teve o primeiro contato com a política na escola, em um coletivo cultural.
No caso de Letícia, o interesse pela política veio em 2013, em meio à eclosão de protestos que tomaram as ruas do país. Desde então, ela teve contato com iniciativas como o Students for Liberty e o RenovaBR e se filiou ao Novo, após analisar o resultado das eleições de 2018.
— Depois da onda de renovação, me senti ainda mais na obrigação de fazer a minha contribuição para construir um Brasil melhor — afirma.
A composição etária dos partidos não espelha a população brasileira. Enquanto os quadros mais jovens das siglas representam menos de 2% dos filiados, os brasileiros com idade entre 16 e 24 anos são 14% da população, segundo o IBGE. Já o grupo com 60 anos ou mais equivale a 35% dos filiados, apesar de corresponder a 13,8% dos brasileiros.
Os maiores e mais antigos partidos têm menos jovens em seus quadros do que a média nacional. É o caso do MDB, no qual os jovens são apenas 0,8% dos filiados, enquanto os que têm 60 anos ou mais representam quase metade do total.
A cientista política Amanda Machado, que pesquisou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) o recrutamento partidário de jovens gaúchos, diz que os partidos costumam priorizar universitários com perspectiva de seguir carreira política, e atraem quem já tem familiares nas legendas. Em geral, conclui, não há investimento na formação de eleitorado:
— Os partidos têm uma estrutura consumida pela lógica e necessidade de ter representantes no Executivo e Legislativo. Mas a legislação prevê recursos para que as fundações partidárias atuem na educação política.
Pesquisadora do Centro de Estudos do Comportamento Político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Myla Freire concorda que é preciso investir em educação política, mas defende que isso ocorra na escola. Ela destaca que o jovem engajado costuma se mobilizar a partir de causas:
— São diversas, direito à cidade, igualdade de gênero, meio ambiente, e não parecem estar na maioria dos partidos.