Cacos de louça, pedaços do coração de uma mãe artesã
10 de maio de 2021Qual mãe nunca abriu mão de algo pelos filhos? Que atire a primeira pedra! Ser mãe não é padecer no paraíso, como dizem por aí e não foi diferente na vida de Gesa Andrade: artista plástica, artesã e professora de mosaico. Mãe do Luiz Fernando Monteiro de Moura Andrade, 25, e do José Henrique Monteiro de Moura Andrade, 23, ela se viu com o coração apertado por deixar os filhos sozinhos em casa, decidiu parar de trabalhar fora e investiu em algo que já gostava muito, o artesanato.
Hoje é sua grande paixão e fonte de renda.
A pintura, no fundo de casa, foi o começo da trajetória. Já existia uma simpatia e um domínio sobre o ofício manual, então iniciou dando aulas para as próprias amigas, lecionando esta arte, claro, perto dos filhos. Mas, depois de um tempo, Gesa acabou sofrendo com alergia a tinta, foi aí que a artesã abriu as portas da sua dedicação para o mosaico, conhecido como a ‘arte da eternidade’.
No mosaico, técnica milenar, o que seria descartado é tratado com gentileza e recebe atenção.
Cacos de louça, pratos, canecas, cerâmicas e tantos objetos do dia a dia colocados fora são reaproveitados, transformando-se não só em um novo artefato, mas em arte.
Além dos 20 anos dedicados ao artesanato, Gesa Andrade se vê há seis ressignificando ainda mais sua vida. Hoje sua renda é fruto direto do ‘mosaico Picassiette’, que se diferencia do tradicional, por ser feito de caco de louça. Gesa é professora dessa técnica de origem francesa, e dá aula no ateliê em cima do seu estabelecimento comercial, que fica em Nova Andradina, distante aproximadamente 180km de Dourados.
Com os filhos já crescidos, a “Maminka” – como eles costumam chamá-la –, ainda conta com o auxílio deles no trabalho com a loja.
“Como a maioria das mães, eu tinha problemas trabalhando fora com os filhos pequenos. Eu decidi parar de trabalhar e, como já tinha habilidade de atuar com artesanato, resolvi ficar perto dos filhos. Tudo começou a se encaixar, percebi que era realmente o que eu queria fazer. Mesmo com o problema de alergia, me vendo até mesmo um pouco com depressão por ter que parar de ensinar essa arte, não desisti e foi então que o mosaico surgiu na minha vida, a bem da verdade salvou minha vida. O mosaico tem isso de recuperar, restaurar. É a arte que imita a vida. Aquela coisa de juntar os seus caquinhos e montar a sua obra de arte”, conta, emocionada, a artesã.
Para muitos, uma louça rachada, um espelho quebrado, um pedaço de madeira velha ou um tecido rasgado representam nada mais do que materiais para serem descartados na lixeira. No entanto, é a partir de materiais como esses que Gesa Andrade cria obras da chamada arte musiva, mais conhecida como arte do mosaico.
“O que mais me encanta no mosaico é que, além de terapêutico, ele tem o cunho ecológico, o que é muito bacana. Aquela louça, prato ou xícara que quebrou em casa normalmente vai para o lixo, nós reaproveitamos”, ressalta a mosaicista.
Seu trabalho é levado para todo o Brasil e suas obras já viajaram o mundo. Pedacinhos dessa sul-mato-grossense conquistaram muitos países, como República Tcheca, Grécia, Filipinas, Austrália e Japão. Arte, ofício, fonte de renda, terapia, redescoberta da vida e mais que isso, uma prática sustentável para um mundo que também precisa se refazer diante dos seus cacos.
*Autora é jornalista e colaborou ao Dourados News