PIB do Brasil recua 0,1% no 2º trimestre e recuperação perde fôlego
1 de setembro de 2021Maior queda foi da agropecuária (-2,8%), seguida pela Indústria (-0,2%). Serviços cresceram 0,7% e consumo das famílias ficou estagnado. Apesar do resultado frustrante, economia brasileira se manteve no patamar pré-pandemia.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil recuou 0,1% no 2º trimestre de 2021, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, segundo divulgou nesta quarta-feira (1) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os números do IBGE mostram que a economia brasileira perdeu fôlego, após avanço de 1,2% nos 3 primeiros meses do ano e depois de 3 trimestres de alta.
Apesar do resultado frustrante, o PIB se manteve no patamar entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, período pré-pandemia, segundo o IBGE, mas agora está 3,2% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.
O resultado veio mais fraco que o esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de um crescimento no segundo trimestre de 0,2%, na comparação trimestral.
Variação trimestral do PIB desde 2016 — Foto: Elcio Horiuchi e Guilherme Luiz Pinheiro/G1
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e durante um certo período e serve como uma espécie de termômetro da evolução da atividade e da capacidade de uma economia gerar riqueza e renda.
Principais destaques do PIB no 2º trimestre:
- Agropecuária: -2,8%
- Indústria: -0,2%
- Serviços: 0,7%
- Consumo das famílias: zero
- Consumo do governo: 0,7%
- Investimento (FBCF): -3,6%
- Importação: -0,6%
- Exportação: 9,4%
- Construção: 2,7%
- Comércio: 0,5%
Alta de 6,4% no semestre
Frente ao 2º trimestre de 2020, o PIB cresceu 12,4% – maior taxa trimestral de toda a série histórica do PIB, iniciada em 1996.
O IBGE ponderou, no entanto, que este salto se deve à comparação com o trimestre que registrou a taxa negativa mais intensa de toda a série histórica, de -9% na comparação com o trimestre imediatamente anterior e -10,9% na comparação anual. “Estamos comparando este resultado com o pior trimestre da pandemia”, destacou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
No primeiro semestre, o PIB acumula alta de 6,4% na comparação com os 6 primeiros meses do ano passado. No acumulado nos quatro trimestres terminados em junho, o avanço foi de 1,8%.
A maior queda foi da agropecuária (-2,8%), afetada por quebra de safras , seguida pela Indústria (-0,2%), que vem sendo abalado pela falta de insumos e custo elevado das matérias-primas. Por outro lado, os serviços cresceram 0,7% na comparação com o 1º trimestre, diante da reabertura da economia com o alívio nas medidas de contenção da Covid-19.
Entre as atividades industriais, o pior desempenho foi o das indústrias de transformação (-2,2%) e da atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,9%). Por outro lado houve avanço de 5,3% nas indústrias extrativas e de 2,7% na construção.
“O consumo de energia está acompanhando a retomada da economia, mas os custos, com o acionamento das termelétricas por conta da crise hídrica, estão puxando para baixo o valor adicionado ao PIB”, destacou Palis.
PIB pela ótica dos setores da economia — Foto: Elcio Horiuchi e Guilherme Luiz Pinheiro/G1
Setor de serviços ainda não recuperou patamar pré-pandemia
Nos serviços, os destaques foram as atividades de informação e comunicação (5,6%), e outras atividades (2,1%), que englobam os serviços prestados às famílias. Comércio (0,5%), atividades imobiliárias (0,4%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,3%) e transporte, armazenagem e correio (0,1%) também avançaram. Apenas administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social ficou estagnada no trimestre, na comparação com os 3 primeiros meses do ano.
Dentre os três grandes setores da economia, apenas o de serviços não recuperou o patamar pré-pandemia, operando ainda 0,9% abaixo do 4º trimestre de 2019. Já as atividades listadas como outros serviços se encontram 7,2% abaixo do patamar pré-Covid, segundo o IBGE.
“Os outros serviços são aqueles mais dependentes do atendimento presencial e têm um peso bastante grande dentro do próprio setor. Ou seja, são eles que estão puxando para baixo o setor, segurando o retorno dos serviços ao patamar pré-pandemia”, explicou Palis.
Já indústria e agropecuária se encontram, respectivamente, 1,6% e 3,3% acima do patamar observado antes da crise sanitária. “Lembrando que a agropecuária não sofreu quase nenhum efeito da pandemia”, ponderou a pesquisadora.
PIB pela ótica da demanda — Foto: Elcio Horiuchi e Guilherme Luiz Pinheiro/G1
Consumo estagnado
Pela ótica da despesa, consumo das famílias teve variação zero na comparação com o 1º trimestre. Os investimentos tiveram queda de 3,6%. Já o consumo do governo teve alta de 0,7%.
O desemprego elevado e a alta da inflação observada desde o começo do ano tiveram impacto negativo direto sobre a retomada da economia.
“Apesar dos programas de auxílio do governo, do aumento do crédito a pessoas físicas e da melhora no mercado de trabalho, a massa salarial real vem caindo, afetada negativamente pelo aumento da inflação. Os juros também começaram a subir. Isso impacta o consumo das famílias”, destacou Palis.
Segundo a pesquisadora, o consumo das famílias, que pesa mais de 60% do PIB, ainda se encontra 1,6% abaixo do patamar pré-pandemia. “A gente vem observando melhora no mercado de trabalho, com geração de empregos, mas não houve crescimento da massa salarial. E a inflação tem um impacto bastante relevante sobre a renda”, destacou.
Rebeca ressaltou, ainda, que a alta da inflação vinha sendo puxada, desde o final do ano passado, pela alta de preços de alimentos e bebidas e este ano passou a ser muito impactada também pelo encarecimento dos combustíveis.
Bares cheios na zona norte do Rio de Janeiro, em imagem do dia 10 de julho — Foto: Jorge Hely/Framephoto/Estadão Conteúdo
Exportações têm alta de 9,4%
A balança comercial brasileira teve uma alta de 9,4% nas exportações de bens e serviços no 2 trimestre, a maior variação desde o 1º trimestre de 2010. Segundo o IBGE, o principal destaque foi a safra de soja estimulada pelos preços favoráveis. Por outro lado, as importações caíram 0,6% na comparação com os 3 primeiros meses do ano.
Os investimentos medidos pela formação bruta de capital fixo (FBCF), que reúnem os gastos das empresas e do governo com máquinas e equipamentos, infraestrutura, construção e inovação, voltaram a cair (-3,6%) após 3 trimestres seguidos de alta.
A taxa de investimento no segundo trimestre de 2021 foi de 18,2% do PIB, contra 15,1% no mesmo período do ano anterior (15,1%), mas ainda distante do patamar de 2013 (20,9%).
Já a taxa de poupança foi de 20,9%, ante 15,7% no 2º trimestre de 2020.
O que disse o governo
Em nota, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia avaliou que o resultado negativo do PIB no segundo trimestre ocorreu no período de três meses com maior número de mortes pela Covid-19 e com efeitos setoriais relevantes, acrescentando que o crescimento do PIB acumulado em 4 trimestres mostra “boa posição da economia brasileira”.
“Mais relevante do que observar o número do crescimento, é analisar a sua qualidade. Importantes reformas pró-mercado e medidas de consolidação fiscal estão sendo aprovadas, lançando as bases para o crescimento sustentável do país no longo prazo”, afirmou.
Piora das expectativas
Apesar do avanço da vacinação contra a Covid-19 e do fim das medidas de restrição de horários e público em boa parte do país, a inflação persistente, a tensão política e “riscos fiscais” (sustentabilidade das contas públicas) têm elevado nas últimas semanas o nível de incerteza sobre o ritmo da retomada e provocado revisões para baixo das previsões econômicas.
A expectativa do mercado financeiro para o crescimento da economia em 2021foi reduzida de 5,27% para 5,22%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central. Para 2022, a média das projeções está em 2%, mas parte dos analistas já vê um crescimento mais próximo de 1,5%.
Em 2020, no primeiro ano da pandemia, a economia brasileira caiu 4,1%, registrando a maior contração desde o início da série histórica atual do IBGE, iniciada em 1996, o que tirou o Brasil da lista das 10 maiores economias do mundo.
Economistas avaliam que o aquecimento do setor de serviços – o que mais emprega no país e com maior peso no PIB – deve ajudar na melhora do mercado de trabalho e garantir que o PIB do terceiro e do quarto trimestre fiquem no azul, mas alertam para o riscos de novos freios para a recuperação, incluindo a perspectiva de novas elevações na taxa básica de juros (Selic), de agravamento da crise hídrica e piora do ambiente político, em razão das reiteradas ameaças do presidente Jair Bolsonaro à ordem democrática.
Fonte: G1