Setor de proteína animal deve crescer mais no 2º semestre, acredita Francisco Turra
14 de julho de 2017Passados quase quatro meses da Operação Carne Fraca, deflagrada em 17 de março pela Polícia Federal, o setor de proteína animal, apesar da instabilidade social, política e econômica do país, apresentou estabilidade e acena para uma possível evolução do quadro atual, para o segundo semestre de 2017.
A avaliação foi feita pelo ex-ministro Francisco Turra, presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e membro da Academia Nacional de Agricultura da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), durante coletiva de imprensa na sede da instituição, na terça-feira, 11 de junho.
Na oportunidade, foram apresentados os balanços semestrais da avicultura e da suinocultura nacional e as perspectivas para ambos, em 2017.
Segundo levantamento da ABPA, os níveis de exportação do segmento são superiores aos do mesmo período do ano anterior.
“Os embarques de carne suína foram superiores aos registrados no primeiro semestre de 2016 e, no caso das aves, os embarques foram ainda maiores do que o mesmo período do ano passado”, destacou o executivo.
A receita dos embarques de carne de frango manteve saldo positivo no primeiro semestre deste ano. De acordo com a Associação, o saldo das vendas entre janeiro e junho superaram em 5,9% o total apurado em igual período do ano passado.
“No total, foram US$ 3,585 bilhões em 2017, frente a US$ 3,384 bilhões no ano anterior”, comparou o vice-presidente de Mercados da ABPA, Ricardo Santin.
Já o segmento de suínos, teve o melhor desempenho de câmbio em um semestre registrado nos últimos cinco anos, com saldo de U$ 814,7 milhões ante os U$ 633,8 milhões no primeiro semestre de 2016, o que representa um aumento de 28,5%.
Segundo Santin, devido ao caos momentâneo causado pela Operação Carne Fraca, alguns países diminuíram a importação do Brasil. Mesmo assim, o produto brasileiro não foi substituído pelos produtos de mercados concorrentes.
“Um fator que contribuiu para esse cenário é que países concorrentes do Brasil sofreram com surto de influenza aviária e não conseguiram ocupar a lacuna deixada”, avaliou.
PREVISÕES
Os executivos da ABPA acreditam que, com a recuperação da imagem dos produtos brasileiros no mercado internacional, os volumes de produção de carne suína e de frango tendem a crescer.
“Em nossa avaliação, na avicultura, devemos recuperar as perdas e crescer 1% no ano, tanto na produção quanto na exportação. Já na suinocultura, a produção deve crescer entre 1,5% e 2% e a exportação deve atingir aumentar 1% no ano”, prevê o presidente da ABPA.
“As produções globais crescem menos do que a exportação. Vamos recuperar nossa posição até o final do ano, pois o Brasil tem muito espaço para crescer”, acrescentou Santin, lembrando que a incidência de influenza aviária, tanto na Europa quanto na África do Sul, além do aumento de consumo do produto brasileiro na Rússia, também contribuíram para esse cenário.
Conforme Santin, outro indicador que também contribui positivamente para acreditar na melhora do setor é a boa oferta de milho e de soja que, ao contrário do que aconteceu em 2016, proporciona à cadeia produtiva de proteína animal melhores condições de competitividade.
FISCALIZAÇÃO
Sobre o posicionamento de entidade em relação aos fiscais agropecuários para a fiscalização de frigoríficos e às necessidades de se criar concursos para abertura de novas vagas ou até mesmo uma contratação emergencial para esse setor, devido à desconfiança gerada pós Carne Fraca, o presidente da ABPA defende que isso seja feito com a maior agilidade possível.
“Isso é de responsabilidade do Ministério da Agricultura (Mapa) e precisa ser resolvido com urgência, pois é inadmissível que tenhamos, em qualquer momento que seja, falta de profissionais responsáveis por essa fiscalização, pois sabemos que isso faz parte da exigência, não só do mercado interno, como principalmente dos mercados externos”, pontuou o executivo.
FEBRE AFTOSA
Mesmo que relacionada a outro setor da cadeia produtiva, a proposta de retirada da vacinação dos bovinos contra febre aftosa é outro ponto defendido pela ABPA. Segundo o vice-presidente técnico da entidade, Rui Eduardo Saldanha Vargas, isso traria muitos benefícios, principalmente para o segmento de suínos.
“Há tempos, tentamos promover esse ‘divórcio’ entre o mercado de carne suína e bovina, pois alguns países ainda vinculam essa vacinação também aos suínos, o que não é uma realidade, já que não há vacinação nesse segmento”, explicou Vargas, acrescentando que essa medida seria positiva para ambos os mercados.
Ele acrescentou que o setor de proteína, como um todo, enfrentou, no início de 2017, uma série de “doenças” relacionadas a equívocos de comunicação, que promoveram uma visibilidade inadequada daquilo que é a realidade em relação à qualidade do produto brasileiro.
“É impossível um país como o Brasil, do tamanho que é e com o volume de produção que tem, não apresentar problemas, mas o que importa é a nossa capacidade de resolver esses problemas e desenvolver medidas de prevenção e controle para evitar que eles ocorram, e esse tem sido o esforço coletivo de toda cadeia produtiva do setor”, destacou.
HISTÓRICO DO SETOR
O presidente da ABPA enfatizou a qualidade do produto exportado pelo Brasil e lembrou que, há muito tempo, o país é referência no quesito saúde animal.
“Nos últimos 40 anos, exportamos 60 milhões de toneladas de carne de frango, o equivalente a US$ 94 bilhões de receita, referentes a 2,4 milhões de contêineres, e nunca houve nenhuma reclamação em relação à sanidade do produto brasileiro”, disse Turra, comentando que, no caso da carne suína, o histórico é o mesmo, e que ao todo, foram 9 milhões de toneladas exportadas e receita de US$ 19 bilhões.
“Aconteceram alguns pequenos problemas, mas nunca perdemos nada por conta de falta de sanidade de nossos produtos, e não será por causa de um episódio “mal interpretado” que perderemos essa condição de referencial quando o assunto é qualidade e idoneidade sanitária de nossos produtos”, ratificou o presidente da ABPA.
NOVOS MERCADOS
Sobre a possibilidade da abertura de novos mercados internacionais para os produtos brasileiros, ainda este ano, Turra acredita que é questão de tempo para que isso volte a acontecer.
“Estamos muito próximos de fechar acordo com Coreia do Sul e México, este último é um mercado que nos interessa muito por ser o quinto maior consumidor de carne suína do mundo”, informou.
“As tratativas já estão bem avançadas e, se isso se confirmar, os números previstos tendem a ser ainda melhores ao final de 2017.”
OVOS
De acordo com a ABPA, os embarques de ovos renderam US$ 4,6 milhões, receita 53,5% menor em relação ao primeiro semestre de 2016, que foi de US$ 10 milhões.
Em volume, a retração foi de 55,8%, com 3,3 mil toneladas neste ano, frente a 7,4 mil toneladas no primeiro semestre de 2016.
Ainda segundo a instituição, porém, o cenário é de melhora, já que, em junho, mesmo com um total de embarques 4,7% inferior ao registrado no mesmo mês de 2016, a receita aumentou 6,4%, com US$ 850 mil em 2017 ante US$ 798 mil no ano anterior.