“Parecendo cidade grande”; aos 87 anos Dourados enfrenta os desafios da urbanização
20 de dezembro de 2022“Nossa, a cidade cresceu muito!”, “tá parecendo cidade grande”, com certeza você já disse ou ouviu frases como essas nos últimos anos. De fato, Dourados cresceu e cresceu muito. Ao completar 87 anos nesta terça-feira (20/12) a maior e mais populosa cidade do interior do Mato Grosso do Sul tem recebido cada vez mais pessoas e aumentado as construções de novos bairros, residenciais, condomínios e loteamentos.
De acordo com estimativas de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade possui população de 227.990 habitantes e uma área territorial de 4.062,236 km², o que representa média de 47,97 habitantes por km².
A mudança está perceptível à vista de qualquer um que chega à cidade e de longe percebe a extensão cada vez maior. Mas como esse crescimento está sendo administrado? A distribuição urbana da cidade é adequada às proporções e às reais necessidades de Dourados?
O Dourados News conversou com o professor de planejamento urbano, Mario Cezar Tompes da Silva.
Ele foi secretário de planejamento do município entre os anos de 2006 a 2008, na gestão do ex-prefeito Laerte Tetila (PT), e conta que já naquela época a cidade enfrentava o problema de um crescimento predominantemente horizontal.
“Nossa preocupação era evitar o crescimento horizontal da cidade. Tínhamos uma grande quantidade de vazios urbanos dentro do espaço urbanizado, então decidimos que iríamos segurar esse crescimento esparramado para incentivar que os novos empreendimentos urbanos ocorressem dentro do perímetro já existente, para preencher esses vazios”, relata o professor.
Segundo o especialista, há alguns anos a prefeitura inverteu essa lógica e quase que triplicou o perímetro urbano, repetindo o erro lá de trás.
Essa expansão acaba por encarecer os investimentos públicos, uma vez que obriga a prefeitura a levar esses serviços que já existem em áreas pouco habitadas para lugares distantes, com a implantação de mais postos de saúde e escolas, ou com a coleta de lixo, transporte e segurança pública tendo de traçar rotas cada vez maiores.
“O Centro da cidade é o melhor espaço servido de infraestrutura, com hospitais, escolas, área pavimentada, drenagem e esgoto. Entretanto, a densidade demográfica do Centro é de cerca de meio (0,5) habitante por hectare, isso é jogar dinheiro fora. fizemos um monte de investimento naquela área e pouquíssimas pessoas usufruem. Seguimos empurrado as moradias para cada vez mais longe do Centro e seus recursos”, afiram o professor.
De acordo com Mário Cezar, qualquer investimento na área central deve priorizar aumentar as moradias no local e de uma forma vertical, fazer a cidade “crescer para cima” com prédios residenciais, o que é algo comum em grandes centros.
“Trazer moradias para o Centro não custa nada à prefeitura, diferente do crescimento para as áreas distantes. Precisamos inverter essa situação e trazer mais pessoas para morar no Centro e em prédios, porque ali já temos a estrutura necessária”, disse. / Foto: Hedio Fazan/Dourados News
Essa questão toma outras proporções com os anúncios de investimentos milionários na infraestrutura da cidade, como o Fonplata (Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata), onde boa parte dos recursos serão aplicadas na região central.
Para o especialista, além de oferecer estímulos para a verticalização do Centro, esses investimentos precisam ser aplicados na mobilidade urbana, privilegiar transportes alternativos, como o uso da bicicleta, por exemplo.
E para isso, é necessária a criação de uma malha cicloviária arborizada e segura.
Investir em parques e áreas verde, que atuem tanto na preservação ambiental, quanto na disponibilidade de áreas gratuitas para as práticas de esporte, lazer e entretenimento da população.
Além de atualizar o sistema de transporte público, para que ele seja mais eficaz, atrativo, ágil e seguro.
“Não é a todo o momento que nós temos um valor como esse para investir, acontece uma vez a cada século, então se e é tão difícil essa oportunidade, temos que aplicar de maneira que realmente traga benefícios palpáveis para a população e ter muito cuidado à qualidade e as escolhas dos projetos ”, afirma.
O professor ressalta que Dourados cresceu e precisa se atualizar, uma vez que hoje é referência para as cidades da região e toda mudança realizada serve como modelo que possivelmente será repetido nas cidades menores, por isso, é necessário desapegar de sistemas antigos e viver o novo.
Além disso, parte desse investimento será pago ao longo dos anos pela população, logo, a decisão de como serão aplicados precisam ser abertas, definidas junto à população, e não há portas fechadas.
“Para mim a ‘Dourados ideal’ é uma cidade efetivamente sustentável, que olha para as necessidades do desenvolvimento econômico, que gera riqueza necessária para o bem-estar da população, porém, que esse modelo econômico seja mais sustentável e equitativo, para que os frutos dessa riqueza sejam melhor distribuídos.”, finaliza Mario Cezar Tompes.
No dia 25 de novembro a prefeitura lançou o “Desenvolve Dourados”, um programa de investimentos com diversas fontes – municipal, federal e estadual –, sendo a principal delas o Fonplata.
Ao todo são mais de R$ 500 milhões em obras que prometem obras de drenagem de águas pluviais, pavimentação asfáltica, sinalização viária, calçamento e acessibilidade para bairros como, além de investimentos na rua Aziz Rasselen, avenida Parque Arnulpho Fioravante, Jardim das Primaveras, Altos do Indaiá e na rua Bento Matos, na Vila Nova Esperança.
Além disso, são previstos R$ 60 milhões aplicados na Mobilidade Urbana; R$ 25 milhões nas áreas da cultura, lazer e esporte; R$ 40 milhões para o setor da educação; R$ 60 milhões para programas habitacionais do município e R$ 10 milhões em investimentos na saúde pública.
Fonte: Dourados News