‘Longe de casa’, venezuelanos continuam escrevendo histórias a partir da culinária típica

‘Longe de casa’, venezuelanos continuam escrevendo histórias a partir da culinária típica

27 de abril de 2023 0 Por meums
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O agravamento da crise econômica, política, humanitária, somado a constantes desastres naturais, fizeram a imigração venezuelana crescer maciçamente nos últimos anos. Com isso, muitos cidadãos tiveram que continuar escrevendo as suas histórias ‘longe de casa’.

Conforme o Subcomitê Federal para Recepção, Identificação e Triagem dos Imigrantes, coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Brasil já recebeu cerca de 853.566 imigrantes vindos da Venezuela.

Vindos da cidade de Valência, localizada no norte da Venezuela, Alexander Figueiróa e a esposa Rebeca Daza moram maior e mais populosa cidade do interior de Mato Grosso do Sul há cinco anos, com a filha de 10. Eles relatam que saíram do país um pouco antes do agravamento da crise econômica.

“Para nós, não chegou a crise que tem lá e que existe, não chegou na nossa situação, mas já estava muito perto. As ruas já estavam fechadas, a escassez já existia. Você tinha dinheiro, mas ia para o supermercado e não comprava nada”, relembra Alexander.

Em março de 2018, os três chegaram na cidade da ‘terra vermelha’ com uma mala cheia de sonhos e novas perspectivas de vida. No início, a ideia do casal era trabalhar na área da construção porque já tinha um negócio no ramo no país de origem, porém, os planos mudaram.

Notando que o nicho da gastronomia venezuelana ainda não era explorado na cidade e, mesmo sem uma experiência anterior, decidiram trazer um pouco da culinária típica para Dourados e começaram a trabalhar com vendas de alimentos como arepas, patacós e tequeños.

Eles relembram que a primeira Arepa foi vendida em 6 de novembro de 2018, em uma feira no Parque dos Ipês. Na ocasião, a cliente ficou surpresa por ter abacate no preparo do prato salgado e chamou mais pessoas para provar.

A partir disso, a fila de clientes aumentou e as vendas prosperaram, tanto que a comercialização dos produtos da família continua no parque onde tudo começou, e também nas feiras do BNH Iº Plano e do Parque Alvorada, além dos atendimentos por delivery.

Das primeiras impressões sobre a cidade, brincando, o casal comenta sobre a terra vermelha e o clima, os quais são praticamente dois extremos, “aqui você sente o sol dentro da pele e frio dentro do osso, lá não tem isso, lá é mais equilibrado”, comentou.

Eles também citam a diferença na alimentação, principalmente comparando o café da manhã. Na Venezuela, o costume é ter uma refeição farta ao acordar, com pelo menos três arepas com ovo mexido, feijão preto, abacate e queijo, “e vocês só pãozinho ou um salgado”, brinca o casal.

Outra surpresa foi o idioma, que ambos achavam que seriam parecidos, porém, se depararam com o universo de sinônimos das palavras e as gírias dos brasileiros, “o português escrito com o espanhol escrito dá para entender tranquilamente, já o português pronunciado é totalmente diferente”, comentam.

Devido à crise, quase todos os familiares do casal foram embora da Venezuela e estão espalhados pelo mundo e, apesar da saudade, não consideram retornar para morar, “o país é feito pelas pessoas e quando você tem um país com uma diáspora como o nosso, nada é igual quando volta”, comentou Alexander.

Conforme a Agência da Onu para Refugiados, em cinco anos, os municípios que mais receberam pessoas refugiadas e migrantes foram Curitiba/PR, São Paulo/SP, Chapecó/SC, Dourados e Manaus/AM.

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Também vinda do país vizinho, Rosbelis Randy Diaz Chacon, 38, mora no Brasil há oito anos e percebeu na culinária uma oportunidade de complementar a renda da família em Dourados. Solteira e mãe de três filhos, ela nasceu em San Felix, no estado de Bolívar.

A venezuelana também saiu do seu país devido à crise, antes mesmo da situação chegar ao extremo. No Brasil, morou primeiramente em São Paulo, um dos três principais pontos de entrada de imigrantes no país, além de Pacaraima e Manaus.

Ela conta que no começo teve dificuldades com a língua e também com a questão de emprego, por isso, antes da pandemia abriu um restaurante na garagem de casa para vender empanadas, arepas, cachapas e sopas típicas do país de origem.

“Escolhi esse ramo como fonte de renda porque já tinha trabalhado lá na Venezuela com isso”, relata Rosbelis. Após algum tempo sem fabricar os produtos por conta de uma cirurgia, ela voltará a vender os pratos no Condomínio Idelfonso Pedroso, onde mora.

Já sobre a diferença da alimentação entre os dois países, ela explica que a culinária brasileira parece ser mais ampla, porém, há coisas parecidas.

“Por exemplo, o prato típico da Venezuela é arroz, feijão preto, uma carne desfiada, com fraldinha, e banana da terra frita, que vocês também comem no dia a dia aqui”, comenta.

Imigração venezuelana no Brasil

Quanto ao perfil da população venezuelana migratória, a maioria é do sexo masculino e tem entre 30 e 59 anos, faixa etária que representa 52% do total, segundo dados do ‘Informe de Migração Venezuelana’, de janeiro de 2017 a janeiro de 2023.

O estudo aponta também que 33% têm entre 18 e 29 anos. Os idosos, com 60 anos ou mais, são a minoria, representando 3% dos venezuelanos que entram no Brasil. Desses imigrantes, 52% são homens, enquanto a população feminina corresponde a 48%.

Imigrantes em Dourados

Dourados já recebeu três certificados da OIM (Agência da ONU para as Migrações) de boas práticas migratórias, por estar entre os melhores no acolhimento migratório.

De acordo com Jean Kenson Jolne, coordenador da Coordenadoria Especial do Imigrante da Prefeitura Municipal de Dourados, com o acompanhamento, os imigrantes se sentem amparados, principalmente nas questões de direitos laborais, civis e sociais.

“Com a presença da Coordenadoria os imigrantes não têm mais problema de documentação, eles são acompanhando na saúde, na educação, isso faz que o município se torna a referência em boas práticas migratórias”, explicou Jean.

*Foto interna: Rosbelis servindo uma sopa típica da Venezuela/ Arquivo Pessoal

Fonte: Dourados News


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