Indígena Huni Kuin traz medicina ‘da terra’ para aldeia de Dourados
4 de outubro de 2017Filho do povo indígena Huni kui- kaxinawa, da floresta amazônica, o indígena Txana Tuin ou Cleudon Pinheiro Sales (nome em português) trouxe ensinamentos de cura pela natureza e resgate cultural às etnias da reserva indígena de Dourados, a mais populosa do Brasil.
Cleudon explicou que as diferentes espécies são cultivadas em seus jardins medicinais, que tratam enfermidades físicas e espirituais. Soluções naturais que servem para a cura de qualquer doença.
Na busca para manter essa tradição viva entre os povos indígenas, pelo menos 2 livros foram lançados com a cultura e sabedoria milenar de cura dos povos Huni kui- kaxinawa. No primeiro deles intitulado “O Espírito da Floresta” fala da cultura indígena. No segundo livro “Una Isi Kayawa — Livro da cura Huni Kuî do Rio Jordão” (Editora Dantes, 260 páginas), mais de 100 espécies da terapêutica indígena são apresentadas em textos e imagens.
A obra é organizada pelos pajé Agostinho Manduca Mateus Ika Muru e o etnobotânico Alexandre Quinet, pesquisador do Jardim Botânico do Rio (uma seleção de fotos de Camilla Coutinho.
Espalhado pelo estado do Acre, sul do Amazonas e Peru, o povo indígena Huni Kuin sempre encontrou a cura na natureza, graças à sua estreita ligação com a floresta e seu conhecimento milenar das plantas, mas a conservação da tradição indígena é outra característica.
Em Dourados o indígena também trouxe noções do Mahku, movimento dos artistas Huni Kuin. Ele explicou que o trabalho consiste em tr~es fases. O primeiro é o da narração dos mais antigos sobre a história dos ancestrais. Numa segunda etapa eles traduzem essas histórias através de desenhos em telas com acrílico ou em papel com lápis de cor. Na terceira fase eles compõe musicas utilizando a sequencia de desenhos.
Trata-se do movimento Kayatibu, que tem o objetivo de manter viva a cultura indígena. Essas obras de arte são conhecidas no Brasil e no mundo. Cleodon calcula ter mais de 150 musicas desse movimento, criado pelo avô e que passará por todas as gerações da família dele.
Segundo Cleodon, ao chegar em Dourados, se preocupou com o modo de vida dos patrícios. “Tive a impressão de que a cultura indígena está bastante prejudicada aqui. Muita influencia de não indios. Alcool e drogas podem destruir nossos povos aqui. onde vivemos, na floresta esses produtos não entram e tudo o que consumimos é retirado daquilo que nós plantamos e carne do mato. Todos se ajudam. Se alguma família não tem um tipo de alimento , a gente fornece as sementes e todos plantam com fartura. Somos em 9 mil indígenas e seguimos a risca nossa tradição. Acredito que minha vinda aqui trouxe uma semente de esperança para as comunidades de Dourados que precisam voltar a amar nossas tradições e depender cada vez menos do poder público. É isso que fazemos em nossa Reserva. Aquilo que não temos, a gente busca incentivando o turismo no local, uma forma também de manter viva nossa tradição. Nossas crianças sentem orgulho de morar lá”, destaca.
Dourados Agora