Nem olhamos para nós mesmas
18 de abril de 2018Por Jackeline de Lara*
Contas a pagar, filhos para levar e buscar no colégio, unhas a fazer, cabelo para retoque de raiz, escova, tintura, familiar para levar ao médico, cheques para cair, gastos extras que fogem ao orçamento planejado. Realmente é uma loucura a vida da mulher moderna, aquele sentimento de exaustão constante, somado à deliciosa sensação de “eu posso tudo”.
Cuidamos de tudo, cuidamos de todos, mas na maioria das vezes, nem olhamos para nós mesmas. Não estranhamos essa posição à qual ocupamos, fomos educadas para ela, desde criança já ouvíamos nossas mães, enquanto faziam os serviços da casa, dizerem que mulher tem que estudar, se formar, para nunca depender de homem. E, neste universo, a geração de mulheres que nasceram depois dos anos 70 vem sendo moldada e seguindo à risca.
Muitas coisas boas nos foram ensinadas, mas não aprendemos a ter um momento só nosso, não sem culpa. É inacreditável, mas existem mulheres que sentem culpa quando se sentem felizes longe do lar, como se a alegria só lhe fosse permitida quando estão acompanhadas de filhos, companheiros, e se divertir sozinha, esbarra em um crime, o crime do egoísmo, o crime da irresponsabilidade com a casa, o crime do desprezo com o lar. Não deveria, mas como é comum em nosso meio, mulheres que cumprem com destreza seus compromissos como companheira, zelando pelo lar, mesmo quando paga uma funcionária para fazer, amorosa com os filhos, com o esposo, ajuda nas despesas, e o dia que resolve aceitar um convite para um lanche com as amigas, o marido/namorado telefona para falar de algum assunto que ele sabe que é desagradável e poderia ser discutido em outro momento, deixando a mulher visivelmente arrasada ao desligar o celular, sem contar aqueles que não param de ligar perguntando sobre algo que não encontra em casa, tirando dela o prazer, a paz, a liberdade, a felicidade daquele momento que deveria ser só dela.
Elas normalmente não se sentem desrespeitadas, mas caem na armadilha do sujeito, ficando tristes, arrasadas durante o evento que deveria ser para gargalhadas sem limite, ou acabam por ir embora, sentindo-se a pior mulher do universo, aquela que abandona a família, o namorado maravilhoso. Alguns relacionamentos são verdadeiras prisões invisíveis, com um polvo manipulador, dominando, mas quem leva a fama de polvo é sempre ela.
Não podemos deixar esses absurdos serem perpetuados, são tantas responsabilidades que a mulher tem, algumas nem deveriam ser delas, mas viver bem e com qualidade de vida, devem ser prioridade em nossas vidas, e não podemos abrir mão, mulher é gente também, tem necessidades, e precisam ser respeitadas, nossas irmãs no passados, não foram mártires para que hoje vivêssemos como se nossos direitos, embora pouco amplos, existissem. Nascemos para sermos livres, e é assim que devemos seguir, livres, doa a quem doer.
* Jackeline de Lara, graduada em Pedagogia, especialista em Educação Especial e em Educacão Infantil e Séries Iniciais, proprietária do Espaço Kids. Casada e mãe de duas lindas meninas.