Cultivo de maracujá doce pode gerar mais renda dentro da agricultura familiar

Cultivo de maracujá doce pode gerar mais renda dentro da agricultura familiar

20 de abril de 2018 0 Por meums
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O Brasil é atualmente o maior produtor mundial de maracujá, produzindo por ano aproximadamente um milhão de toneladas da fruta. Contudo, 95% dos pomares brasileiros produzem maracujá-azedo havendo pouca dedicação para o fruto do tipo doce. Pensando nesse aspecto do cenário produtivo é que o pesquisador Fábio Faleiros, da Embrapa Cerrados, do Distrito Federal, trouxe o cultivo do maracujá doce BRS Mel do Cerrado para apresentar ao público da Tecnofam – Tecnologias e Conhecimentos para Agricultura Familiar, no município de Dourados. A nova variedade foi lançada bem recentemente, em dezembro de 2017.
“Essa cultivar é fruto do melhoramento genético ao longo de mais de 15 anos de estudos. Ela vem de uma espécie nativa [Passiflora alata] do Brasil já cultivada para comercialização na década de 70. A nova cultivar, além do sabor agradável, tem alta produtividade e maior tolerância a pragas”, enfatiza.
Um trabalho que chamou a atenção da engenheira agrônoma Aline Mohamud, que é também pesquisadora da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer). “Está tendo muito questionamento por parte dos agricultores familiares de Mato Grosso do Sul sobre essa nova cultivar. Vir até a Tecnofam foi interessante para ver de perto e conversar com os pesquisadores ligados ao assunto. Duas cultivares que pretendo avaliar no Estado através de experimentos futuros”.
Experiente nos estudos sobre o maracujá-azedo, Aline contou que algumas das variedades apresentadas na feira tiveram bom desenvolvimento em pequenas propriedades rurais em Campo Grande e Três Lagoas. “Pela Cepaer [Centro de Pesquisa e Capacitação da Agraer], eu e a pesquisadora Olita Sallati já testamos as cultivares Rubi do Cerrado, Gigante Amarelo e Sol do Cerrado que, inclusive, estavam entre as variedades expostas na Tecnofam”.
Lado a lado, cada cultivar foi apresentada aos agricultores familiares, também, com o objetivo de mostrar que é possível o plantio de forma consorciada. “Cultivar o maracujá azedo e o doce em uma mesma área não tem problema algum. Cada planta deverá ter o seu espaldamento, porém, se o produtor rural quiser ter as duas variedades é algo bem possível”, enfatizou o pesquisador da Embrapa Cerrados.
Uma realidade que pode ajudar na polinização das plantas e no orçamento no final do mês. “A flor do maracujá doce abre das 8h às 12h, enquanto a do azedo abre à tarde, das 14h às 17h. Essa diferença de horário permite que o produtor se programe sobre os cuidados de cada cultivar, permitindo a polinização manual, por exemplo, nos horários de menor incidência do sol”, avaliou Faleiros.
Seja azedo ou doce o cultivo de maracujá é muito indicado dentro da linha familiar garantiu o pesquisador. “Duas e três pessoas conseguem polinizar manualmente um hectare sem nenhum problema. Em áreas próximas às matas têm como contar com a ajuda de polinizadores naturais como as abelhas”.
O maior desafio mesmo está na formação de clientela em relação ao maracujá doce. “O agricultor familiar vai gastar um tempo maior para encontrar comercialização. Daí a ideia de começar com pequenas áreas e tendo o maracujá azedo como outra fonte de renda. Entretanto, o lucro do maracujá doce é mais atrativo, podendo chegar a quatro vezes mais que o maracujá azedo. No Distrito Federal, o preço pode chegar a R$ 10,00 o quilo sendo que o maracujá azedo fica em torno de R$ 3,00”, afirmou Faleiros.
Já o custo na formação de área não foge da realidade de qualquer investimento para fins comerciais dentro da agricultura familiar. Valor que não difere em nada se comparado ao maracujá azedo. A céu aberto, o produtor familiar terá um gasto em torno de R$ 20 mil o hectare. Já em uma estufa de cerca de 300 a 400 m² o custo deverá ser de R$ 5 a 6 mil, dependendo dos materiais escolhidos para a instalação.
“Dentro dessa linha de maracujá doce também apresentamos a cultivar BRS Pérola do Cerrado que foi lançada no ano de 2013. Trata-se de uma cultivar alternativa para o mercado de frutas especiais com forte valor agregado dentro do mercado”, pontou Fábio Faleiros.
Tanto o maracujá doce do tipo Mel do Cerrado como Pérola do Cerrado têm não apenas a boa produtividade como característica. A exuberância das flores evidencia também um forte potencial ornamental. São indicadas para uso na fruticultura ornamental, com utilização das flores, frutos e da própria planta no paisagismo de grandes áreas como cercas e pérgulas.
Por fim, Fábio Faleiros destacou que há um manual disponibilizado pela Embrapa para os agricultores familiares que tenham interesse em obter mais informações sobre o cultivo do maracujá azedo e do doce. “É uma publicação feita pela Embrapa juntamente com parceiros para tirar dúvidas de produtores. Houve o envolvimento direto de 39 especialistas da Embrapa e de instituições de ensino e de assistência técnica e extensão rural do Brasil como um todo”.
O livro contém 500 perguntas e respostas relacionadas à adubação, sistema de condução de podas, manejo de plantas invasoras, colheita, comercialização e uma infinidade de outros temas ligados ao cultivo de maracujazeiro.
De caráter bienal, a Tecnofam foi realizada esta semana, de 17 a 19 de abril, pela Embrapa em parceria com o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Agraer, Semagro e Fundo para o Desenvolvimento das Culturas de Milho e Soja (Fundems). O evento ainda conta com outras instituições públicas e privadas ligadas ao setor produtivo.


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