Mulher é agredida pelo marido no ES, não denuncia e diz que ‘ele não merece’
12 de agosto de 2018A esposa do homem que foi esfaqueado pela filha durante uma briga do casal, em Vila Velha, disse que não vai denunciá-lo à polícia. Mesmo já tendo sido agredida outras vezes, a mulher defendeu o companheiro. “Ele não merece, é um homem muito bom. O problema dele é a cachaça”, disse. * O G1 não vai identificar o agressor nesta reportagem para preservar a vítima.
O caso aconteceu na noite desta quinta-feira (9), após voltarem de um bar. Ao ver a mãe ser agredida pelo pai, a filha adolescente, de 16 anos, golpeou o homem com uma faca, para que ele parasse com as agressões. O agressor, um montador de carros de 50 anos, levou duas facadas.
Mas o que faz uma mulher agredida não denunciar o agressor? O G1 foi buscar explicações com uma psicóloga que atende mulheres para entender esse comportamento de vítimas que, mesmo sofrendo agressões por parte dos companheiros, seguem na relação e não levam o caso à polícia.
Cristiana Cariola Travassos atende mulheres vítimas de violência doméstica e agressores em um projeto oferecido pela prefeitura de Vitória.
Segundo ela, é comum que por medo e vergonha as mulheres não façam as denúncias.
“Tem a questão de que a mulher se vê como a responsável por manter a união da família. Ela também acha que o homem vai melhorar, que ela tem que ter paciência. Há ainda a dependência financeira. Ela não tem para onde ir e acha que tem que se submeter àquilo”, disse.
Ciclo de violência
As consequências disso, segundo a psicóloga, é que a mulher perde a essência e, sem querer, pode provocar um ciclo de violência.
“Isso gera um ciclo vicioso, porque ela vai dando novas chances e a cada vez que ele agride, a agressão fica mais violenta. Começa com xingamento, daqui a pouco está batendo, daqui a pouco está matando. A autoestima cai, porque o agressor coloca a culpa na mulher, e ela começa a se esvaziar, a se anular. Não sabe mais quem é, do que gosta”, completou a psicóloga.
‘Denunciar é um dever de todos’
Para a chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, a delegada Cláudia Dematté, em casos de violência, denunciar é um dever de todos. “A sociedade tem responsabilidade também. A gente não pode ser omisso ao ver um crime, é importante que as pessoas se posicionem”, disse a delegada.
Lei Maria da Penha
A Lei Maria da Penha existe para proteger as vítimas que sofrem agressões físicas, psicológicas, sexuais e outras violências dentro de casa.
De acordo com a delegada, desde a implantação da lei, o número de mulheres que buscam as delegacias para denunciar violência cresceu. Mas o Espírito Santo ainda ocupa a 3ª posição entre os Estados mais violêntos contra à mulher, segudo o Monitor da Violência.
E, como disse a delegada, “é um dever de todos denunciar”. Mas você sabe o que fazer ao ver ou ouvir uma mulher sendo agredida? E se você for a vítima? O G1 buscou as orientações, acesse:
Caso
Mesmo sem ter sido denunciado pela esposa, o marido foi autuado em flagrante por lesão corporal e injúria na Forma da Lei Maria da Penha e está internado sob escolta policial no Hospital São Lucas.
Já a filha, a adolescente de 16 anos, não foi autuada porque a delegada entendeu que ela agiu em legítima defesa da mãe. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados para preservar a identidade das vítimas.
Em depoimento à polícia, a mulher e a adolescente contaram que o casal estava em um bar ao lado de casa, no bairro Cobi de Cima, quando o homem ficou com ciúmes e discutiu com a esposa, de 54 anos.
Os dois foram para casa e, segundo os depoimentos, ele começou a bater na mulher. A filha disse que gritou pedindo várias vezes para que ele soltasse a mãe.
Como as agressões não pararam, ela deu dois golpes com uma faca na barriga do pai. O homem soltou a mulher, voltou para o bar e pediu socorro.
O homem foi autuado por lesão corporal e injúria e está internado sob escolta policial em estado grave no Hospital São Lucas.
A delegada determinou o pagamento de uma fiança de R$ 1 mil, que ainda não havia sido paga até esta sexta-feira (10). Assim que receber alta, ele será encaminhado para o Centro de Triagem de Viana.