Fim do Google+: relembre motivos para o fracasso da rede social
14 de outubro de 2018O Google anunciou o encerramento de sua rede social Google+, após informar que os dados de mais de 500 mil usuários podem ter sido expostos a desenvolvedores de apps. O problema ocorreu devido a um erro na API do Google+ People, que já existia há dois anos e foi descoberto em março. As pessoas têm um período de dez meses para salvar e migrar os conteúdos, até que o serviço seja encerrado de vez para os consumidores em agosto de 2019.
A plataforma, entretanto, não será completamente descontinuada. A empresa investirá em clientes corporativos, por acreditar ser mais adequada para esse perfil.
O Google+ foi lançado em junho de 2011 sob muita expectativa. Inicialmente, só era possível abrir uma conta caso fosse convidado por um amigo. Em somente quatro semanas, a plataforma já contava com 25 milhões de usuários. Em setembro, a empresa liberou o acesso para qualquer pessoa com mais de 18 anos.
Seus recursos incluíam o Círculos, que permitia organizar os contatos em grupos; Comunidades, uma herança do extinto Orkut; e a ferramenta de bate-papo Hangouts. A rede social, disponível em versão online e em apps para Android e iPhone (iOS), permitia ainda a transmissão de vídeos por meio do YouTube, editar e compartilhar fotos e filmes pessoais, determinar o tipo de conteúdo que mais interessa no feed, entre outras funções.
Confira a seguir quais foram os principais erros cometidos pela Gigante de Buscas que colaboraram para o fracasso do serviço.
1. Competição com o Facebook
Especialistas, como o colunista da Forbes Steve Denning, acreditam que a estratégia assumida pelo Google pode ter sido um dos motivos para o fracasso do G+. A plataforma foi anunciada em 2011 como uma espécie de rival do Facebook, rede social que na época já tinha mais de 250 milhões de usuários ativos e satisfeitos com os serviços oferecidos. Os diferenciais não eram o suficiente para fazer com que as pessoas trocassem um pelo outro. “Tentar derrubar o Facebook ao oferecer algo similar ao Facebook é como a Microsoft derrubar o iPod com o Zune. Não tem como”, argumentou Denning.
Google Plus — Foto: Reprodução/Google Plus
Funcionários e ex-funcionários anônimos do Google já afirmaram que o Google Plus surgiu por medo da empresa de Mark de Zuckerberg. O arquiteto chefe de redes sociais da época, Vic Gundotra, teria assustado o CEO, Larry Page. “Vic era uma ‘mosquinha’ constante no ouvido de Larry: ‘O Facebook vai nos matar. O Facebook vai nos matar'”, disse um ex-executivo do Google ao site norte-americano Mashable. O medo tinha fundo no fato de a companhia não ter conseguido, até então, emplacar no universo das mídias sociais, colecionando fracassos como o Orkut, o leitor de RSS Reader, a plataforma de comunicação Wave e a rede social Buzz.
2. Não conquistou os usuários e desenvolvedores terceiros
De acordo com o comunicado emitido por Ben Smith, vice-presidente de engenharia do Google, uma das razões para o descontinuamento do serviço é a baixa adesão por parte de usuários e desenvolvedores terceiros. A interação com os apps também teria sido abaixo do esperado, apesar dos esforços da companhia em aprimorá-los. “Atualmente, a versão do consumidor do Google+ tem baixo uso e engajamento: 90% das sessões dos usuários do Google+ tem menos de cinco segundos”, informou.
Google Plus — Foto: Reprodução/Google Plus
Steve Denning acredita que um dos principais motivos para isso está no fato de a companhia não ouvir seus consumidores. Reforçam essa ideia os depoimentos de ex-funcionários da empresa ao site Business Inside. Eles afirmaram que a plataforma teria sido criada pensando em resolver problemas da própria companhia e não para fazer um produto que tornasse mais fácil aos usuários se conectarem uns com os outros.
3. Não funcionava como uma ferramenta social
De acordo com o Business Inside, os ex-funcionários da companhia afirmaram que a plataforma não tinha um apelo social fácil e genuíno como o Facebook e o LinkedIn, por exemplo. As pessoas tinham que pensar em quem gostariam de incluir em seus Círculos em vez de simplesmente adicionar os contatos, como em outros serviços do tipo.
Comentários no Blogger integrado com o Google+ — Foto: Divulgação/ Google
Em 2015, a própria empresa assumiu o “erro”, quando mudou o posicionamento e passou a denominar o serviço como uma espécie uma vertente social que transitava por meio de todos os serviços do Google. Além disso, o Google Plus foi transformado em dois produtos distintos: o Google Fotos e o Stream. “O Google+ agora pode se concentrar em fazer o que já está fazendo muito bem: ajudar milhões de usuários ao redor do mundo a se conectarem com o interesse que eles amam. Aspectos do produto que não cumprem esta agenda foram ou serão retirados”, disse à época Bradley Horowitz, líder da plataforma e vice-presidente do Google.
4. Design e nomenclatura pouco amigáveis
O Google+ surgiu com o objetivo de tomar o lugar do Facebook, oferecendo funcionalidades bastante semelhantes às do rival. Os novos usuários, já bastante habituados com a rede de Zuckerberg, entravam na plataforma do Google e se perdiam por não encontrar os recursos onde ou como estavam acostumados. Assim, é possível que as pessoas tenham optado por continuar usando o serviço que já conheciam e tinham os seus amigos reunidos: o Facebook.
Google Plus nunca convenceu usuários — Foto: Reprodução/Elson de Souza
Para complicar, as ferramentas tinham nomes pouco intuitivos, que dificultavam a sua compreensão. Afinal, o que “Círculos”, “Sparkles” ou “Hangouts” significam? Era preciso estar disposto a explorar mais a fundo ou ler acerca para entender e, no mundo corrido de hoje em dia, nem todos estão.
5. Nem mesmo os funcionários do Google acreditavam no produto
Um ex-funcionário afirmou ao Business Inside que o G+ era um produto controverso dentro da companhia. Primeiramente porque, em 2011, Larry Page, o CEO da empresa, enviou uma nota a todos os funcionário afirmando que o bônus recebido pelos empregados seria influenciado pelo sucesso ou fracasso das ferramentas sociais da empresa. O empresário pedia esforços por parte até mesmo daqueles que não estivessem envolvidos diretamente com a área, testando os produtos, dando feedback e incentivando amigos e familiares a utilizarem.
Quando a ferramenta foi lançada, o Google substituiu o então sistema de videoconferências usado pelo Google Plus, impondo a rede sem consultar os colaboradores. A realidade é que, segundo o site Social Media Revolver, as pessoas não “compravam” a plataforma. Um funcionário afirmou que seria “Uma espécie de Facebook com um pouco de Twitter”, enquanto um executivo via apenas como outra plataforma social, sem nada de excepcional.