A força que descobrimos que temos
8 de janeiro de 2018Por Jackeline de Lara*
Temperamento forte, tudo elas sentem e vivem, de uma forma muito mais intensa e profunda que os demais, tanto que é como se os sentimentos se materializassem a todo tempo, são como uma bomba relógio sempre pronta a explodir, tudo é importante demais, menos elas.
Os amigos, colegas de trabalho, filhos, sobrinhos, familiares, namorados, esposos, amantes e tudo o que diz respeito à eles, são delas, elas comandam, protegem, dominam como polvos ferozes, é o robe, é o vício incontrolável que carregam, e as mutila, fere, destroem.
Possessivas, ciumentas, egocêntricas, ferozes, assim são as mulheres que amam demais, ora fadas, ora bruxas, ninguém é capaz de detê-las, amansá-las e ser confiável. Conviver com uma mulher que ama demais, é passar as 24 horas do dia em uma montanha russa e, ser uma mulher que ama demais, é carregar na alma o desespero do medo da perda, da solidão, da dor do desprezo, e se sentir em um mundo cinza, escuro, onde o único sentimento verdadeiro que sente, é um nó na garganta e um embrulho no estômago, a morte seria alívio.
Cada passo dos que amam, cada movimento, horário, amizades, dinheiro, até seus pensamentos, há nelas a certeza de que realmente amam, e que seus sentimentos são os mais verdadeiros, e puros, daí a falta de peso de consciência com as atitudes mais egoístas, imaturas, que têm, são capazes de machucar de todas as formas, pensando estarem defendendo o ser amado, e podem até matar.
Fui uma criança mimada, acreditava que o mundo girava ao meu redor, uma adolescente dominadora, preconceituosa, uma jovem extremamente controladora, e manipuladora, nunca aceitava a perca, e lutava para sempre no controle de tudo e todos, uma adulta insuportável, e hoje lido com dificuldade, para viver e deixar viver, convivo com a dificuldade de não me sentir no centro, e busco em meu dia a dia viver o desapego. Fui muito amada, mas mimada, e isso trouxe consequências drásticas para a minha vida, que atrapalhou assim muitas outras vidas. Não estou curada totalmente, mas através de muito quebrar a cara, sentir a dor da alma gritar, passar por síndrome do pânico, pensar em suicídio, homicídio, buscar ajuda profissional, e ler muito, tenho conquistado dia a dia um emocional mais saudável, equilibrado, e o gostinho maravilhoso da alegria entrar em minha vida, e tem sido maravilhoso. Assim como a dependência química, não existe cura definitiva para o amor obsessivo, é uma luta constante, todos os dias, todos os segundos, em todas as situações, e vivemos tentados à cometer os mesmos erros sempre, por isso a importância de também buscar constantemente apoio profissional, e muita leitura sobre o assunto.
Mulheres que amam demais, sofrem, e sofrem muito, mulheres que amam demais dão tudo de si, se jogam na vida, perdem tudo, em especial a dignidade. Estão sempre cercadas de pessoas que as exploram de todas as formas, e de amores infiéis, como conviver com elas é algo difícil, os que se encostam, é para tirar proveito de algo que elas podem oferecer, e elas dão tudo mesmo, porque não sabem nem de longe lidar com o abandono.
Quem ama demais, na verdade se ama de menos, quem ama demais, não sabe amar, não sabe dar não sabe receber, é necessário ajuda dos amigos verdadeiros, familiares, é necessário acompanhamento profissional, e de mulheres que um dia também amaram demais, estarem à disposição para ajudar essas irmãs, que convivem nessa prisão tão dolorosa, onde a saída é o amor verdadeiro dos verdadeiros.
Se você é uma mulher que ama demais, não espere mais um dia para buscar ajuda, quem lhe fala foi uma mulher que amou demais, foi abusada por amar demais, e chegou no fundo do poço, de onde saiu viva, porque teve a misericórdia de Deus em colocar pessoas em seu caminho para ajudá-la. Primeiro você precisa se identificar com aspectos deste artigo, depois aceitar que é uma mulher que ama demais e que precisa de ajuda, e ir atrás dessa ajuda. A paz que conquistamos, o equilíbrio, a força que descobrimos que temos, é melhor que qualquer benção que poderíamos receber. Saímos do túnel, e podemos sentir o calor do sol em nossa pele, até os ossos.
* Jackeline de Lara, graduada em Pedagogia, especialista em Educação Especial e em Educacão Infantil e Séries Iniciais, proprietária do Espaço Kids. Casada e mãe de duas lindas meninas.