Além de incêndios florestais, Estado também pode sofrer com problemas de abastecimento d’água
31 de maio de 2021As cenas de um Pantanal em chamas, o fogo consumindo a vida e cinzas espalhadas pelo Estado devem voltar a acontecer em Mato Grosso do Sul. Depois do Governo Estadual e do Ministério do Meio Ambiente decretarem estado de emergência ambiental, o alerta vem do Governo Federal: esta será a pior seca dos últimos 111 anos.
Outro reflexo será risco de desabastecimento d’água, com queda dos níveis dos reservatórios. No ano passado, Campo Grande já sofreu com a falta d’água e a necessidade de recorrer aos caminhões pipa.
O alerta se estende também aos estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Paraná, todos que estão na bacia do Rio Paraná. A região tem classificação “severa” e previsão de pouquíssimo volume de chuva.
Em 111 anos, este é o primeiro alerta dessa natureza e, segundo publicado pelo Estadão, reforça que a emergência hídrica está relacionada à escassez de precipitação na região hidrográfica. A previsão é de que o cenário persista até setembro.
Sem previsão de chuva volumosa, cenário pode se repetir e ainda de pior forma em 2021. (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)
Se de um lado Mato Grosso do Sul entra neste alerta pela região leste, o Estado já está sob decreto de emergência ambiental por conta dos incêndios que atingiram o Pantanal em 2020. Os focos no período de grande estiagem, que se agravaram pelas ações humanas, fizeram com que o bioma perdesse 30% de seu território, o equivalente a mais de 4 milhões de hectares, segundo o Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Medidas – Publicado em março deste ano, o decreto de emergência do Ministério do Meio Ambiente vai de maio a setembro e, na prática, facilita a tomada de ações como acesso a recursos da União. Em abril, o Estado também decretou emergência por conta do baixo volume de chuvas, por ver indicativos de que 2021 seguiria o mesmo caminho do ano passado, quando Mato Grosso do Sul registrou seca recorde.
Também foi autorizada, pelo Governo Federal, a contratação de 1,6 mil brigadistas que irão combater os incêndios florestais, este ano, no Brasil. Deste total, 95 serão destinados a Mato Grosso do Sul, sediados na região do Pantanal e, especificamente, em aldeias indígenas no Estado.
Bombeiros combatendo focos em Porto do Manga, em Corumbá, no Pantanal. (Foto: Arquivo/Chico Ribeiro)
Pior que 2020? – Até o alerta de agora, os sul-mato-grossenses enfrentaram a pior estiagem dos últimos 50 anos, e não apenas as áreas onde o fogo queimou foram atingidas, na Capital, por exemplo, foi possível ver o céu coberto da fumaça do incêndio que vinha do Pantanal.
O analista ambiental Alexandre Pereira, do Prevfogo/Ibama (Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais), espera que o aviso não se concretize, mas diz que todas as agências envolvidas no combate aos incêndios florestais vem se preparando desde o ano passado para a temporada de fogo 2021.
“A gente espera que não ocorra, mas as condições climáticas estão muito semelhantes as do ano passado: baixa quantidade de chuva, nível do Rio Paraguai. Está muito semelhante ao ano de 2020 e a previsão é de que o evento se repita”, diz.
Portaria até liberou contratação, mas brigadistas só devem voltar ao Pantanal em julho. (Foto: Arquivo/Prevfogo)
No entanto, como o Pantanal ainda se recupera das queimadas que atingiram grandes extensões, Alexandre explica que a tendência é que a grande quantidade de área não esteja disponível para queimar novamente.
“A natureza precisa de um tempo para se recuperar, o combustível para o incêndio é a vegetação e como ela não se recuperou ainda, consequentemente haverá menos incêndio”, completa.
O alerta do Governo Federal, apesar de falar sobre a Bacia do Rio Paraná, é válido para todas as regiões de Mato Grosso do Sul. “A diminuição das chuvas é generalizada. A gente fala do Pantanal, porque historicamente ele é o local onde mais se pega fogo, mas ano passado tivemos aumento da incidência também na costa leste do Estado”, pontua o analista.
O monitoramento do Prevfogo é diário em cima de dados de calor e localização, além de acompanhar a régua de Ladário, para verificar a altura do nível do Rio Paraguai. “As previsões climáticas monitoramos diariamente, mas as ações de execução só começam, de fato, em julho, quando a gente tem possibilidade de contratação das brigadas temporárias”, levanta Alexandre.
Imagens de fogo se espalhando pelo Pantanal, em setembro. (Foto: Arquivo/Corpo de Bombeiros)