Alerta: MS tem surto de sífilis e falta do uso de camisinha é a principal causa
12 de junho de 2017Os números da sífilis em MS ‘explodiram’ nos últimos anos e o crescimento da doença está associada à falta do uso do preservativo
Os números da sífilis em Mato Grosso do Sul ‘explodiram’ nos últimos anos e o crescimento da doença está associada à falta do uso do preservativo, afirmam especialistas. Conforme números do Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, em 2012 havia 565 casos em gestantes e esse número saltou para 963 casos em 2015.
Conforme a SES (Secretaria Estadual de Saúde), o aumento de registros mostra um cenário ‘alarmante’, embora apresente um sistema de notificação mais eficaz.
Para a gerente técnica do programa estadual de IST/AIDS, Daniele Martins, a prevenção e o diagnóstico precoce são as principais armas para a redução dos índices de infecção.
”A situação se torna preocupante pelo fato de, nos últimos anos, cada vez mais as pessoas estão deixando de usar preservativos e isso influencia não somente a sífilis como também em outras infecções sexualmente transmissíveis. Mesmo com a rede estruturada para poder atender a população, na maioria das vezes, não há a procura, o que acaba comprometendo o diagnóstico e tratamento da doença”, destacou a gerente.
Outro fator de preocupação é o fato dos sintomas da doença serem indolores e depois desaparecerem por um tempo, dando a impressão de cura, mas voltando a manifestar até décadas depois. Quanto às gestantes, é importante, segundo os médicos, que o parceiro também faça o tratamento, caso contrário ele pode infectar a mulher novamente.
A gerente garante que, desde 2015, a secretaria ampliou a disponibilidade de testes rápidos e também a oferta de testagem para toda a população através da rede de atenção básica nos municípios.
Em Mato Grosso do Sul, conforme levantamento do Ministério da Saúde, nos primeiros meses de 2016 houve 434 notificações, sendo que a faixa etária de gestantes com a doença com mais casos é entre 20 a 29 anos, com 217 registros. Em segundo lugar está o grupo de grávidas de 15 a 19 anos, com 118 casos e a faixa de 30 a 39 anos com 86 casos. Os dados mostram ainda que o maior número de casos se concentra em gestantes que têm entre o 5º e o 8º ano escolar incompletos.
Para o infectologista Ricardo Vasconcelos, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o mundo todo está passando por um aumento na transmissão de sífilis. “Mas no Brasil esse aumento é explosivo e atinge todos os grupos populacionais. Vemos isso no dia a dia nos nossos laboratórios”, observa.
Segundo o cientista, o principal motivo para a epidemia é que, nos últimos anos, os jovens deixaram de usar camisinha em suas relações sexuais. “Não é só a sífilis, mas todas as DSTs têm aumentado, como clamídia e gonorreia”, diz o infectologista. “Até mesmo o HIV, que parecia estacionado, voltou a crescer nos últimos três anos. Como a sífilis tem transmissão mais fácil, sua taxa explodiu.”
Ainda conforme Vasconcelos, o antigo preconceito contra a Aids começou a ser demolido. ”Ela já não é mais sinônimo de morte e os novos tratamentos permitem que os pacientes soropositivos vivam muitos anos portando o vírus. Na década de 90, os jovens tinham pavor de pegar HIV. Aos seis anos de idade, já ganhavam o primeiro pacote de camisinha da mãe”, diz Vasconcelos.
“Naquela época, era comum conhecer alguém que morreu com a doença. Essa geração perdeu até mesmo ídolos, como Freddie Mercury e Cazuza, por causa do vírus.” O que é uma ótima notícia se tornou um problema conforme as novas gerações foram deixando a camisinha de lado. “É justamente entre os meninos de 15 a 19 anos que hoje aumenta o número de HIV e outras DSTs”, afirma o infectologista.
Entenda o que é a sífilis
É uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. Pode apresentar várias manifestações clínicas e diferentes estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária). Nos estágios primário e secundário da infecção, a possibilidade de transmissão é maior.
Formas de contágio
A sífilis pode ser transmitida por relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada, ou da mãe infectada para a criança durante a gestação ou o parto.
O uso correto e regular da camisinha masculina ou feminina é uma medida importante de prevenção da sífilis. O acompanhamento da gestante durante o pré-natal contribui para o controle da sífilis congênita.
Sinais e sintomas
Sífilis primária
Ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele), que aparece entre 10 a 90 dias após o contágio. Não dói, não coça, não arde e não tem pus, podendo estar acompanhada de ínguas (caroços) na virilha.
Sífilis secundária
Os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento da ferida inicial e após a cicatrização espontânea.
Manchas no corpo, principalmente, nas palmas das mãos e plantas dos pés. Não coçam, mas podem surgir ínguas no corpo.
Sífilis latente – fase assintomática
Não aparecem sinais ou sintomas. É dividida em sífilis latente recente (menos de um ano de infecção) e sífilis latente tardia (mais de um ano de infecção).
A duração é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária.
Sífilis terciária
Pode surgir de dois a 40 anos depois do início da infecção. Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.
Diagnóstico
O teste rápido (TR) de sífilis está disponível nos serviços de saúde do SUS, sendo prático e de fácil execução, com leitura do resultado em, no máximo, 30 minutos, sem a necessidade de estrutura laboratorial. O TR de sífilis é distribuído pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais/Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde (DDAHV/SVS/MS), como parte da estratégia para ampliar a cobertura diagnóstica dessa IST.
Quando o TR for utilizado como triagem, nos casos positivos (reagentes), uma amostra de sangue deverá ser coletada e encaminhada para realização de um teste laboratorial (não treponêmico) para confirmação do diagnóstico.
Em caso de gestante, o tratamento deve ser iniciado com apenas um teste positivo (reagente), sem precisar aguardar o resultado do segundo teste.
Tratamento
O tratamento de escolha é a penicilina benzatina, mas recomenda-se procurar um profissional de saúde para diagnóstico correto e tratamento adequado, dependendo de cada estágio.
Sífilis congênita
É uma doença transmitida de mãe para criança durante a gestação. São complicações dessa forma da doença: aborto espontâneo, parto prematuro, má-formação do feto, surdez, cegueira, deficiência mental e/ou morte ao nascer.
Por isso, é importante fazer o teste para detectar a sífilis durante o pré-natal e, quando o resultado for positivo, tratar corretamente a mulher e sua parceria sexual, para evitar a transmissão vertical.
Sinais e sintomas
Pode se manifestar logo após o nascimento, durante ou após os primeiros dois anos de vida da criança. Na maioria dos casos, os sinais e sintomas estão presentes já nos primeiros meses de vida. Ao nascer, a criança pode ter pneumonia, feridas no corpo, cegueira, dentes deformados, problemas ósseos, surdez ou deficiência mental. Em alguns casos, a sífilis pode ser fatal.
Diagnóstico
Deve-se avaliar a história clínico-epidemiológica da mãe, o exame físico da criança e os resultados dos testes, incluindo os exames radiológicos e laboratoriais.
Tratamento
Quando a sífilis é detectada na gestante, o tratamento deve ser indicado por um profissional da saúde e iniciado o mais rápido possível. No caso das gestantes, é importante que o tratamento seja feito com a penicilina benzatina, pois este é o único medicamento capaz de prevenir a transmissão vertical. A parceria sexual também deverá ser testada e tratada para evitar a reinfecção da gestante.
Vale MS