Aliados de Temer tentam minimizar efeitos da prisão de Rocha Loures
4 de junho de 2017Se ganhou um fôlego na última semana com dados positivos na economia, nas próximas 72 horas o presidente Michel Temer terá que exercitar toda a sua cultuada capacidade de articulação política para evitar a contaminação do processo de cassação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e uma debandada da base governista pela prisão do amigo e ex-assessor de confiança Rodrigo Rocha Loures.
Interlocutores de Temer criticam o “açodamento” e a rapidez no processo de delação de Joesley Batista, mas acreditam que o TSE fará um julgamento técnico e jurídico. Parlamentares da base, entretanto, como o senador e ex-ministro Armando Monteiro (PTB-PE), avaliam que a prisão do chamado “homem da mala” e o agravamento da crise política terão, sim, reflexo no julgamento que começa nesta terça-feira.
TSE: aliados ainda otimistas
Depois da reunião com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sexta-feira à noite no Palácio dos Bandeirantes, para pedir apoio contra o rompimento do PSDB, Temer retornou a Brasília. Após a prisão de Loures, decidiu voltar a São Paulo, onde se reuniu com aliados e com seu advogado Antônio Cláudio Mariz. Ao Globo, Mariz negou que a conversa tem girado em torno da prisão de Rocha Loures ou discutido mudanças na linha de defesa do presidente.
“Nem tocamos nesse assunto, e também não temos estratégia de defesa porque a denúncia não foi apresentada. Conversamos sobre os mais variados assuntos: desemprego, reformas, o processo no TSE”, respondeu Mariz.
Aliados do presidente procuraram minimizar os efeitos da prisão na crise.
“Não acredito que a prisão de Loures contamine o processo de cassação. O TSE vai decidir com base nos autos. E o tribunal, ao longo do tempo, tem demonstrado que mantém a responsabilidade e equilíbrio em suas posições”, avaliou o ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy.
“Uma coisa nada tem a ver com a outra. Ninguém influencia a Justiça. Nem a mídia, acredito eu”, disse o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Embora a decisão no julgamento da cassação da chapa no TSE tenha de ser técnica e jurídica, o senador e ex-ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio Armando Monteiro discorda em parte de Imbassahy e Eunício. Ele diz que os tribunais superiores são permeáveis ao clima político e não têm como se descolar e o resultado é imprevisível.
“Ainda que o processo seja influenciado pelo clima político, tem o rigor do aspecto técnico jurídico. O que torna o julgamento imprevisível é que no processo há elementos que tanto podem justificar uma posição de anulação da chapa, e ao mesmo tempo argumentos para sustentar que não há elementos para a cassação”, avalia Armando Monteiro.
Líderes e dirigentes de partidos da base que já tinham decidido continuar apoiando Temer, entretanto, podem rever essa posição e minar a blindagem dos cerca de 220 votos do núcleo governista na Câmara. Se escapar da cassação no TSE, ele precisará desses votos para barrar, na Câmara, a denúncia do Supremo Tribunal Federal (STF), dada como certa.
A principal decisão será tomada, na quinta-feira, pela Executiva nacional do PSDB, dividida entre permanecer no governo ou sair e continuar apoiando as reformas.
“A prisão de Rocha Loures, por si só, não acho que será o fato desencadeante de um desembarque do PSDB, mas evidentemente o que ele vai falar, se falar, sim”, comentou o vice-líder do PSDB no Senado, Ricardo Ferraço (ES), para quem o voto do relator Herman Benjamin no TSE deve influenciar o partido.
“O grande marco, decisivo, será o conteúdo do relatório do ministro Benjamim e as evidências que apresentará. Isso terá muita força porque nós que ingressamos com a ação pedindo a cassação da chapa. Nosso compromisso não é com Temer, é com o aprofundamento das reformas”, disse Ferraço.
O presidente do PR, Antônio Carlos Rodrigues, disse que na semana passada o partido se reuniu e decidiu continuar na base. Mas que a posição deve ser rediscutida após a prisão de Rocha Loures.
Hoje, entre aliados, se nota uma impaciência com a insistência do presidente em esticar a corda: “O Temer podia facilitar e renunciar. Mas ele não deixa a gente nem tocar no assunto”, diz um desses dirigentes.
O Globo