Amor ou dependência
25 de setembro de 2018Por Jackeline de Lara*
Um minuto de atraso, já é suficiente para um sofrimento desmedido. As mãos ficam geladas, e trêmulas, o coração acelera, a boca fica seca, e os sintomas de náuseas são iniciados junto aos pensamentos delirantes de estar sendo enganada. A mulher que ama demais, está sempre na defensiva, esperando que algo de muito ruim lhe ocorra e, normalmente esse mal, é uma traição de seu parceiro, que para ela é o ar que ela respira, é o seu único prazer, é a razão da sua existência, e como se, sem ele, a vida não teria sentido algum, ela o prende, de todas as formas que pode, a ética, o respeito, não existem para essa mulher, que acredita que o “amor” está acima de tudo, mesmo que ela precise matar para não perder seu objeto de desejo.
O único assunto interessante para mulheres que amam demais, é sobre ele, sobre o que ele pensa, o que ele sente, seus sonhos, realizações. Ele é o centro de seus pensamentos e tudo gira em torno desse relacionamento, se ele está, ela quer servi-lo de todas as formas, se ele não está, ela está esperando sua chegada. Para ela é muito importante as fotos do amado em seu Facebook, Instagram, WhatsApp, até porque marcar território é fundamental para que o parceiro não se esqueça que tem dona, nem ele, e nem as centenas de mulheres que com certeza visualizarão a dezenas de fotos adicionadas semanalmente.
O ciúmes não se limita às relações do parceiro nas ruas, ambiente de trabalho, mas também nos círculos familiares. Ela o disputa com a sogra, sogro, irmãos, primos, tias, avós. Algumas têm ciúmes até da profissão, não deixando que o companheiro cresça, pois o prende de uma forma, que o mesmo não consegue se concentrar no que faz, e muito menos, trabalhar fora do horário comercial, são tantas ligações, mensagens, e ameaças, que alguns se entregam e passam a levar a vida como um objeto, e não a vivê-la como um ser humano.
Há dois tipos de mulheres que amam demais: as que se anulam, são tolerantes a tudo, desenvolvem depressões, autoflagelo e chegam ao suicídio, e há ainda, as agressivas, essas embora sofram tanto quanto às tolerantes, elas torturam seus companheiros, agridem verbal e fisicamente, e se vingam das traições que acreditam terem sofrido.
São incapazes de sentirem culpa, muito pelo contrário, acreditam serem vítimas do parceiro e das “galinhas” que o cercam, esperando a oportunidade de roubá-lo. Fui uma mulher que amou demais, fui o tipo agressiva, sei cada etapa, cada dor, cada sentimento enlouquecedor e neurótico, conheço cada passo doloroso desta doença, é como viver na terra, mas estar no próprio inferno, sem ver a luz, sem ver saída, e mulheres como nós, são capazes de matar sem misericórdia, e sem remorso.
A cura existe, mas depende totalmente da pessoa aceitar que é um dependente emocional, buscar apoio psicológico com profissionais capacitados nessa área, se tornar uma pesquisadora de vídeos, filmes, livros, tudo o que trata do assunto, e focar essa energia destrutiva, na busca incansável da cura.
Mesmo quando temos a certeza de que estamos curadas, é necessário não abandonar o tratamento, que por fim, sem medicamentos, pode ser realizado através de terapias de grupos. Atualmente, no Mato Grosso do Sul, iniciou o primeiro grupo de auto ajuda para mulheres que amam demais, denominado MADA, que conta hoje com vinte (20) mulheres, que passaram ou estão passando por situações similares, são reuniões semanais, onde são realizados momentos emocionantes de troca de experiências, e à cada encontro é um passo rumo à cura, e ao encontro da qualidade de vida que hoje, é um sonho distante para essas mulheres.
O amor liberta e é livre. O amor se doa e sabe onde repousar. O amor não é ciumento. Ciúmes, inveja, desejo de aprisionamento, é doença, é dependência, é apego, mas nunca amor.
* Jackeline de Lara, graduada em Pedagogia, especialista em Educação Especial e em Educacão Infantil e Séries Iniciais, proprietária do Espaço Kids. Casada e mãe de duas lindas filhas.