APÓS OS 40
4 de julho de 2018Por Jackeline de Lara*
Com o passar dos anos, a certeza de que o tempo corre, e corre rápido demais, é latente. Observamos também, que nunca podemos afirmar que sabemos com profundidade e clareza, sobre qualquer coisa, seja ela qual for, visto que tudo depende de cada contexto, cada situação, cada período, e do amadurecimento de cada um. Ninguém é bom ou mal inteiramente, embora alguns tenham defeitos, que colocam em risco, e até acabam com a vida de outrem, e não é a esses o direcionamento deste texto.
O Brasil é um Pais de cultura extremamente machista, onde a mulher tem prazo de validade, regras que buscam a escravidão da mulher, delegando à ela funções secundárias, privando-a de seus direitos. A mulher é tratada como sendo um objeto, adquirido para a realização e suprimento das necessidades do homem, através da perfeita administração do lar, educação dos filhos, sexo, e na atualidade, precisam também causar admiração no mundo masculino, através de sucesso profissional, e corpos perfeitos. Apesar da lutas feministas, das redes sociais que têm dado acesso maior as mulheres de todas as classes sociais, culturais, o machismo ainda domina, e manipula todo o sistema social.
Nesse contexto desumano em que a mulher brasileira sempre viveu, e vive, onde aos 40 anos de idade, já é considerada velha, descartável, à ponto de se sentirem privilegiadas quando o esposo não as abandonou, mesmo que nessa fase, é comum terem uma amante com a metade da idade da esposa, já existem, mulheres que digo que são à frente do seu tempo, mulheres que não se deixam dominar pelas mentiras que o sistema patriarcal tenta nos fazer engolir, e infelizmente a maioria engole, são as consideradas “rebeldes”, “pra frente”, entre outros adjetivos.
Sou uma mulher de 42 anos de idade, considerada popular, porque estou sempre em meio à muitas mulheres, me sinto privilegiada por fazer parte de tribos, grupos diferentes, tenho meu grupo evangélico, católico, kardecista, umbandista, ateu, procuro não fazer acepção de pessoas, e desde que iniciei esse estilo de vida, confesso, que o único aborrecimento que tenho tido, é com pessoas intolerantes, mas essas não me importam, procuro dizer que elas também, são uma das tribos que estou inserida, em prol de crescimento emocional.
Em todas essas experiências que venho adquirindo, ao procurar ser uma pessoa eclética, descobri algo comum nas mulheres na faixa dos 40 anos de idade, em todos esses grupos. É como se algo sobrenatural acontecesse quando se tornam as famosas quarentonas. Pois é, os seios caídos já não são um problema, a gordurinha localizada deixa de ser assunto, as decepções conjugais se tornam passado, e as presentes são tratadas com troco, ou divórcio, ou passam simplesmente a ver o cônjuge como um ser humano limitado, digno de piedade.
Elas só querem curtir as coisas boas da vida, das suas vidas, e a única coisa que as move, é o que lhes parece profundo, verdadeiro, é o que lhes enche de alegria o coração. Passam a olhar o sol que brilha, a flor que está nascendo em meio ao gramado, os animais de estimação, tudo o que lhe parece belo, lhe prende a atenção, algo que anteriormente passava despercebido, agora é digno de contemplação.
Após os 40, a mulher entende que os filhos não são delas, e que para serem felizes, e vitoriosos precisam de liberdade, e que amigo é Deus, desta forma, não leva mais nada à sério, não busca o futuro, mas viver com intensidade um dia de cada vez, pois descobrem que nada é para sempre, que passamos pelo que temos que passar e não há como fugir, e que lamentações, pensamento fixo no que trás dor, é perca de tempo, é perca de vida.
Nossa sexualidade aflora de forma que assusta, tudo em nós se torna mais denso, ao mesmo tempo, que o auto sofrimento, nos trás repúdio, já que não queremos mais sofrer, então decidimos ser felizes, assim, deixamos de tentar mudar as pessoas, as situações dos outros, e ao começarmos à olhar mais para nós, descobrimos, o quanto somos fortes, guerreiras, lindas, e um mundo à ser explorado, e que somos as únicas responsáveis pelas coisas boas e ruins que deixamos entrar em nossos corações, daí essa segurança que nos invade, nos fazendo acreditar que somos autossuficientes, pois o medo deixa de fazer parte de nossas vidas, já que descobrimos, que de nada vale a vida sem alegria no coração, sorrisos involuntários, liberdade, e só respeitamos o que nos eleva, e não o contrário.
A mulher de 40 não faz questão de ser o centro, a primeira de nada, ela sabe que essas vaidades são ilusões, e que a felicidade está na humildade, inclusive de aceitar o partir do outro, ela entende que o mundo tem gente demais, e que não há como viver na solidão, salvo, se ela não se abrir para a vida. Dizem que é a idade da loba, e ao ler sobre esse animal eu concordo, a loba é guerreira, inteligente, sabe que é forte, se sustenta, e não abre mão da própria liberdade.
Descobrimos que tudo é questão de atitude, e que a única luta válida, é aquela que nos trará nossos direitos roubados, o resto é ignorância, assim, uma saída com as amigas, ou um chá em casa mesmo, se torna um evento. Um filme com os filhos, trás a sensação de estarmos no céu, assim como um abraço, uma noite de amor, com alguém que nos eleva.
Tornamo-nos seletivas em nossas relações, porque agora, a qualidade vale muito mais que a quantidade, e não toleramos superficialidades, futilidades, assuntos irrelevantes, estamos como que em outra dimensão, então o que foge aos nossos anseios, descartamos sem pensar, e sem remorsos, o que não nos faz sentir valorização, companheirismo, ou simplesmente, não nos proporcione momentos incríveis, seja no amor, ou na amizade.
Nestes meus 42 anos recém-completados, Tenho aprendido que cada pessoa que surge de alguma forma em nossas vidas, são enviadas por nosso pai eterno, para nos ensinar algo, e também para aprender conosco alguma coisa. Que os sentimentos, são nossa alma, e que é a partir deles, que sabemos quem somos. E embora tenho buscado mudanças, desde que comecei a olhar um pouco para dentro de mim, buscando o autoconhecimento encontrei inúmeros defeitos, e defeitos horrorosos, mas isso não me fez me sentir desconfortável, talvez tenha sido a síndrome dos 40, que nos impossibilita de nos sabotarmos, tenho me sentido muito feliz, ao perceber que apesar de tudo, posso dizer que evoluí, cresci, e embora tenha muito caminho pela frente, estou no bom caminho.
As experiências nos mostra, nessa fase tão iluminada, que o perdão é um bem que fazemos a nós mesmos, e que perdoar não é necessariamente ficar junto, manter elos, mas dar liberdade ao infrator daquilo que nos fez de mal, e por outro lado, a experiência também nos mostra, que aquilo que parece mal, é sempre o que nos trás algo muito maior, muito melhor, e assim, aprendemos a agradecer até o que nos ocorre e no momento entristece, pois já sabemos que algo maravilhoso está por vir.
Não há vida longe de Deus, ele é a fonte de tudo, ele é a única segurança, o único porto seguro, e trilhar com ele esse caminho complexo, mas cheio de alegrias que é a vida, nunca se esquecendo de que ele é misericordioso, perdoador, é a melhor parte desse trajeto que iniciamos aos 40 anos de idade. Desta forma, vamos viver cada segundo dessa nova fase, que é cheia de sabedoria, alegria, amor, paixão, garra, energia para viver tudo de melhor e maravilhoso que a vida nos presentear.
* Jackeline de Lara, graduada em Pedagogia, especialista em Educação Especial e em Educacão Infantil e Séries Iniciais, proprietária do Espaço Kids. Casada e mãe de duas lindas meninas.