Atleta paralímpica douradense conta como o esporte mudou sua vida
7 de agosto de 2017Com problemas de visão desde a adolescência, a douradense Bethânia Ferreira Gomes, de 43 anos, mãe de um filho de 22 anos, encontrou no esporte paralímpico um novo sentido na vida e um novo desafio profissional após “perder o chão” em 2014, quando era servidora pública e precisou se aposentar em virtude da baixa visão. Com menos de dois anos de treinamento ela já é uma atleta de alta performance e está trabalhando firme para garantir a participação na próxima edição dos Jogos Panamericanos de 2019, em Lima, no Peru.
Após várias participações em competições locais e regionais, na edição 2017 dos Jogos Paralímpicos Universitários, realizados em São Paulo capital, Bethânia trouxe para Dourados três medalhas de ouro, conquistadas nas modalidades dardo, disco e arremesso de peso. Essas novas conquistas colocaram ainda mais ânimo na atleta, que além de treinar forte todos os dias, também administra um clube desportivo paralímpico, o Monte Sião, fundado por ela própria há pouco mais de um ano e que já conta com vinte atletas, sendo três deles já de alto desempenho.
Graças a dedicação que Bethânia confere ao esporte, ela e os demais atletas do clube utilizam para treinamento toda a infraestrutura esportiva da Unigran, que também disponibiliza profissionais para auxiliarem as atividades. O grupo também faz uso diariamente da quadra coberta do Clube Samambaia.
O Clube
A atleta conta que após descobrir um novo mundo através do esporte, que preencheu o vazio que passou a existir em sua vida após a aposentadoria, vislumbrou que seria injusto usufruir sozinha desta benesse e por isso tomou a iniciativa de criar o clube. “Eu acredito muito em Deus e penso que nada é por acaso e que temos uma missão nesta vida. Então um dia conversando com o amigo Eduardo de Rosi falei que teria que me mudar de Dourados para poder treinar, ele perguntou o motivo e eu disse que era a falta de um clube, eis que ele imediatamente me disse eu deveria fundar o clube, aproveitando a minha experiência com projetos durante a carreira pública”, explicou.
O Monte Sião deu os primeiros passos em março de 2016, se passaram apenas um ano e cinco meses, porém, muita água já passou debaixo da ponte. São vinte atletas treinando atletismo, dardo, disco e arremesso de peso, todos eles portadores de alguma deficiência e que agora encontram no esporte uma catapulta para superar os obstáculos e assim como a fundadora, encontrar uma nova missão para se engajar.
De acordo com Bethânia, o clube já galgou um grande progresso nestes poucos meses de existência, mas que ainda tem um longo caminho pela frente. “Temos muita coisa ainda para conquistar e construir, mas neste momento o que mais sentimos falta é de um veículo adequado para transportar os atletas, como uma van ou microônibus, assim como de um motorista. Muitos atletas não tem condições de irem à Unigran ou ao Samambaia treinar e nós também temos dificuldade para buscá-los, pois o único veículo que temos é o meu pessoal, que excluindo o motorista, podemos carregar no máximo quatro pessoas”, lamentou.
Apesar de ainda pouco divulgado, muitas pessoas tem procurado o clube, que no meio já é conhecido por sua capacidade de mudar a vida dos deficientes, tornando mais autônomos, livres e felizes. “Estudamos cuidadosamente todos os casos, pois não basta a intenção da pessoa em treinar, é preciso uma liberação médica para o exercício de qualquer atividade esportiva”, salientou.
Trajetória no esporte
Bethânia conta que conforme sua visão foi se deteriorando ela foi criando severas limitações, até para coisas simples do cotidiano, eram poucas as atividades que ainda realizava sozinha. “Como tenho pouco mais de 10% da visão, praticamente tudo eu dependia de alguém, isso me fazia sentir vergonha, não me sentia bem de forma geral. O resultado disso é que foi acontecendo comigo o que ocorre com muitas outras pessoas na mesma situação, fui me isolando até que chegou uma época que eu não tinha mais contato com o mundo além dos muros da minha casa”, desabafou.
E foi numa conversa, em um desabafo com o amigo Eduardo Rosi que este sugeriu a ela praticar algum esporte, nisso surgiu a professora de atletismo Sandra Arosi, que foi a primeira treinadora. Logo nas primeiras semanas Bethânia foi tomando gosto pela atividade e o esporte foi desencadeando uma enorme necessidade de independência, que fez a nova atleta conseguir recuperar a autonomia em diversas atividades que havia delegado para outras pessoas.
Além do apoio que recebe da Unigran, Bethânia também conta o auxílio de militares do Exército, em especial do Sargento Somer, especialista em arremesso de peso e disco e responsável pelo treinamento dela e demais atletas do clube que escolheram essas modalidades.
Uma experiência fantástica relatada por Bethânia foi a oportunidade de poder sentir a atmosfera olímpica quando em 2016 foi para o Rio Janeiro acompanhar de perto as Paralímpiadas, competição na qual o Brasil se destacou, garantindo o oitavo lugar com 14 medalhas de ouro, 29 de prata e 29 de bronze. “Como é possível imaginar, eu não consegui ver muito do que aconteceu, mas consegui sentir toda aquela atmosfera ao meu redor, que me deu ainda mais força e vontade de continuar treinando, para um dia estar ali também, mas não como expectadora e sim como competidora”, contou.
E não satisfeita com as medalhas de ouro que conquistou nos Jogos Paralímpicos Universitários de 2017, a atleta ainda irá participar de muitas outras competições neste ano, como o Circuito Caixa Nacional, entre outras.