Cansaço é visível, mas servidores lotam auditório em assembleia na Fetems
21 de maio de 2019Espaço com quase 600 lugares teve lotação completa
O semblante dos profissionais da educação presentes na assembleia da Fetems (Federação dos Trabalhadores da Educação de Mato Grosso do Sul) na manhã desta terça-feira (21) revela evidente cansaço e que a luta da categoria por condições de trabalho desafia, também, os limites do próprio corpo.
No local, estão centenas de servidores que vieram do interior até Campo Grande, com o objetivo de deliberar sobre a greve – engessada após liminar que ordena 2/3 da categoria trabalhando.
Antes das 9h, a lotação do auditório da federação já tinha sido atingida. São quase 600 lugares que estavam ocupados, além de diversas pessoas sentadas no chão e de pé nos corredores. Nas poltronas, não era raro flagrar cochilos aqui e ali, reflexo do esforço de cruzar centenas de quilômetros até Campo Grande.
Café, no caso, é o grande aliado de servidores administrativos da educação. Por volta das 11h, cerca de duas horas após o início da assembleia, a copeira já tinha recorrido a 3kg de pó de café para preparar a bebida, que rapidamente foi consumida pelos presentes.
Foi a estratégia da servente Luzia Alves Marques, de 46 anos, que acordou de madrugada para percorrer os 345 km que separam Ponta Porã de Campo Grande. “Deixei meu filho de seis anos para vir aqui lutar pelos meus direitos”, conta Luzia, que é servidora administrativa há 15 anos. “Dependi de vaga no carro do sindicato, mas fiz questão de vir. Ganho R$ 1.400, mas meu salário base é menos que o mínimo”, completa.
É a mesma situação enfrentada pela merendeira Nilceia Queiroz, de 48 anos, que saiu também de madrugada de Santa Rita do Pardo, a 267 km de Campo Grande, para comparecer à assembleia.
“A gente lida com a sobrecarga. Na escola em que trabalho tem duas merendeiras e uma precisou sair, então deslocaram uma moça da limpeza para ajudar na cozinha. Depois que ela terminava a limpeza, ainda tinha que acumular função ajudando na cozinha. Essa é a nossa rotina”, conta a merendeira.
Entre um gole e outro de café, administrativos descrevem que a luta pelo reajuste e pela manutenção do abono de R$ 200, garantido ano passado após greve do setor, é apenas um dos aspectos que dá alguma dignidade a eles.
“A gente não pode nem adoecer. Eu tenho tendinite de tanto mexer panela e não consigo sair para me tratar. Acho que deveríamos ter algum tipo de insalubridade. Nossa categoria tem 6 mil pessoas. Somos a classe com o menor salário em todo o Estado. Por ser o menor salário, o governo deveria ter um olhar mais atencioso, mais humano conosco. Mas, em vez disso, ele quer tirar o pouco que temos”, acrescenta Nilceia.
Juvelina Fernandes, de 43 anos, trabalha há 24 anos com serviços gerais em escolas municipais, em Ribas do Rio Pardo, a cerca de 100 km de Campo Grande. Para ela, a falta de valorização é absurda. “Vivemos cansados, exaustos. Estamos aqui porque é necessário. São três copos de café para ficar acordado e resistir. Mas ninguém pode se calar diante dessa falta de condições”, conclui.