Em Dourados, filósofo conhecido por polêmicas fala sobre ativismo e “mundo chato”
19 de setembro de 2018Luiz Felipe Pondé, é professor, filósofo, escritor e colunista da Folha de São Paulo e considerado polêmico por constantes críticas a grupos ativistas. Em coletiva de imprensa na tarde desta terça-feira (18), na Unigran, onde participou da 2ª edição da Feira de Negócios do Centro Universitário, ele falou sobre o tema ao Dourados News, o qual trata inclusive em livro publicado em 23012 “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” e também de empreendedorismo, um dos assuntos do evento.
Para o professor, é possível conciliar Negócios e Cooperativismo, sendo esta uma forma de sobreviver no mercado e até de criar vínculos.
O mundo dos negócios atualmente tem muitas exigências, o que para Pondé, vai ficar ainda mais nítido com o passar dos anos.
“Atualmente trabalho não é só trabalho, e sim demanda uma série de capacidades que vão além da resolução somente de um problema técnico e quando se pensa na gama de inteligência artificial que vai entrar no negócio, a importância fica maior ainda”.
Ele cita acreditar que ética, política e negócios podem dialogar quando existem mecanismos corretos. O professor acredita que o Estado precisa ser exigido a prestação de contas para uma atuação mais concreta.
“Ética e política, podem dialogar na medida que se tiver grandes mecanismos poderosos do Poder prestar contas. Ética funciona quando se tem instituições poderosas que “encostam o poder na parede” como a própria mídia, buscando identificar processos, expondo problemas de atores políticos entre o sistema”, disse.
Na questão de empreendedorismo, um dos temas centrais da Feira, Pondé citou sobre as dificuldades colocadas pelo Estado para essa classe em especial ao pequeno e médio, como falta de incentivos e tributações.
“O grande desafio do empreendedor no momento, em especial do empreendedor pequeno é sobreviver ao Estado que quer derrubá-lo o tempo todo”, destacou.
Crítica aos ‘excessos’
O escritor se posiciona costumeiramente sobre o que chama de “exageros do politicamente correto com a pretensão de fazer deles os proprietários do monopólio do sofrimento e da capacidade de salvar o mundo”. Tal definição se refere a grupos ativistas e está em sinopses de seu livro publicado em 2012.
Ele reafirmou em coletiva, o que já escreveu em vários artigos opinativos, ao apontar que o “mundo está muito chato”, seguido da justificativa de que o motivo é “o fato de todo mundo se ofender”.
“Tem um motivo para isso que é que hoje existe uma capilarização da recepção da informação. As mídias sociais fazem com que todo mundo ouça/veja tudo o tempo todo quase em tempo real. O que temos visto é que a espécie sapiens que somos nós é uma espécie que pode ser bem “chatinha”, apesar de que todo mundo já via isso nas reuniões de natal, domingo, coisa assim. Você fala uma frase um se ofende aqui, outro ali”, cita.
Na visão dele, ao invés de se vitimar, as pessoas deveriam optar por debater mais. Outro ponto criticado por ele neste aspecto é quanto a apropriação cultural de grupos.
“Do ponto de vista democrático, a democracia é o regime que pressupõe a capacidade de amadurecimento na lida com tensões, então ao invés de você se ofender, você deveria dizer eu discordo, e não eu me ofendo. E isso já chega nas universidades, os alunos chegam nas universidades infantis, cada vez mais, isso com base em pesquisas mundiais, tem até livros que falam disso largamente. Quando digo que as pessoas são infantis, não incluo todo mundo, mas é um processo em que os ativismos na verdade se transformaram em excessos, se você usar por exemplo o cabelo que parecer rastafari, você está ofendendo os movimentos negros, pois, só negros podem usar cabelos nesse estilo. Se amanhã você usar uma lente de contato azul, você vai estar ofendendo grupos de loiros de olhos claros, pois vai estar se apropriando de um olho azul que é deles, apesar de que no caso que dei, só vale se você for considerado vítima social e histórica para falar em apropriação cultural”, diz.
Ele cita que as mídias sociais, tem sido um espaço para debates de pessoas que não estão dispostas a obter conhecimento ou a troca de opiniões de forma ‘saudável’, mas, para a busca de impor a própria opinião.
“O mundo está chato mesmo, e está por algo que citei que com o advento das mídias sociais que é que a gente vê que as pessoas entram em discussões para reforçar os próprios pontos e não escutar outros pontos. É um diálogo de “surdos” e muitas vezes um diálogo de “surdos e chatos”, pois se fica o tempo todo tentando cercear a palavra do outro e a liberdade é sempre um certo risco”, enfatizou.
Conforme mostrado pelo Dourados News, ele critica a “guerra” atual entre esquerda e direita e os ícones destes para a eleição de 2018, como candidatos um tanto quanto “fora da curva”. Sobre liberdade e democracia, ele torna a criticar os lados políticos que para ele tem praticado censura em vários aspectos. Outro ponto na visão dele, é o Estado na tentativa de “enquadrar tudo”.
“Quando entra um aparelho jurídico no meio, o aparelho do Estado, sendo que o Estado só deve ter um tipo de relação com o pensamento que é a de liberdade de pensamento. O Estado com relação a liberdade de pensamento é mais ou menos como em relação a vida sexual, quando entra pra discutir afeto e sexo e liberdade, o Estado é um elefante nas lojas de cristais, ele destrói tudo, tenta enquadrar tudo e acho que o Brasil ainda está resistindo isso, os EUA está muito pior no quesito processos jurídicos por grupo de ofendidos, assim como o Canadá. O processo de contenção e a tentativa de demonizar todo mundo que pode ter opiniões “assim ou assado” é gigantesco, e grosso modo, isso se chama politicamente correto como todo mundo sabe e a onda fica um pouco contra, a esquerda tem praticado bastante censura nos últimos tempos na área cultural e nos últimos anos uma direita cultural “tarada” meio louca também começou a querer proibir exposições arte, peças de teatro, e está imitando o que a esquerda faz”, disse.