Filho de policial militar é chefe de quadrilha que fez crianças reféns
20 de agosto de 2019Adriano da Rocha é filho do sargento da reserva José Sampaio da Rocha, preso desde maio por vender munição a bandidos
A quadrilha que assaltou a casa de um empresário no dia 14 deste mês em Dourados e fez de reféns os moradores, incluindo duas crianças de 2 e 7 anos, é chefiada pelo filho de um sargento da reserva da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. O bando é suspeito de pelo menos outros cinco roubos na cidade, localizada a 233 km de Campo Grande.
O Campo Grande News apurou que Adriano Carlos da Rocha é filho do sargento da reserva da Polícia Militar José Sampaio da Rocha. Em maio, o PM foi preso por venda ilegal de munição (leia abaixo).
De acordo com o delegado Rodolfo Daltro, Adriano divide o comando da quadrilha com Raimundo Gabriel Teixeira da Silva, 26, preso na semana passada. Outros cinco assaltos ocorridos em Dourados e dois em Campo Grande são atribuídos ao bando.
Como fachada para a atividade criminosa, Adriano trabalha como motorista de aplicativo e usa a atividade para dar fuga aos demais membros da quadrilha. Ele está foragido, assim como outros integrantes do bando, cujas identidades são mantidas em sigilo.
Nesta terça-feira (20), o SIG (Serviço de Investigações Gerais) apresentou mais um envolvido no assalto ao empresário na semana passada. Wanderson Romero Barbier, 21, se entregou ontem acompanhado de advogado após quatro dias sendo caçado pela polícia. Ele confessou o crime.
Wanderson é amigo de Gabriel Costa dos Santos, 18, o “Degolado”, preso pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) na BR-463 ainda na noite do dia 14, quando levava para o Paraguai a caminhonete Amarok branca roubada do empresário.
Namorada buscou arma – A namorada de Wanderson, uma adolescente de 17 anos, também foi levada à delegacia para prestar depoimento. Segundo a polícia, foi ela que buscou no Paraguai o revólver calibre 38 usado no roubo à casa do empresário.
Segundo o delegado do SIG, foram Wanderson Romero, Raimundo Gabriel e Gabriel Costa que invadiram a casa localizada no Jardim Europa e renderam a família. Enquanto Gabriel Costa levava a Amarok para o Paraguai, os outros dois saíram da casa com a família de refém em uma Hyundai Tucson, abandonada em seguida com as vítimas.
Outros assaltos – De acordo com a polícia, outros quatro roubos contra residências e assalto a uma empresa na Avenida Weimar Gonçalves Torres foram praticados pela quadrilha nos últimos 40 dias. Era Adriano da Rocha que apontava os locais a serem roubados. Ele sabia a rotina da maioria das vítimas e possuía informações privilegiadas sobre elas.
Conforme a investigação policial, o primeiro roubo da quadrilha foi contra família residente na Rua Cafelândia, no Jardim Água Boa. Os moradores foram deixados amarrados e os bandidos levaram objetos de valor e um Hyundai HB20, abandonado em seguida.
O segundo foi em uma casa no Parque das Nações I Plano, de onde a quadrilha levou uma camionete Ford F1000, logo em seguida abandonada. O terceiro assalto, com igual modo de atuação, foi em residência no Residencial Estrela do Leste, de onde foi levado um Ford KA, também abandonado.
O quarto assalto praticado pela quadrilha de Adriano da Rocha foi contra família residente no Jardim América. Além de outros bens, os bandidos levaram outro HB20, abandonado na Aldeia Jaguapiru. Já o quinto roubo foi contra a empresa de reciclagens na Weimar Torres. Produtos de valor foram roubados, assim como um Peugeot 208, também abandonado.
“Adriano da Rocha resgatava os comparsas após eles abandonarem os automóveis. No roubo do dia 14 deste mês a quadrilha mudou o método de atuação e roubou a caminhonete Amarok, que seria vendida no Paraguai”, explica o delegado.
Conforme a polícia, além de um GM Agile prata, Adriano utilizava outros carros emprestados de amigos e familiares para a prática dos crimes. “A quadrilha, integrada por outros indivíduos, conforme investigação em curso, teria praticado ao menos dois roubos em Campo Grande”, afirmou Rodolfo Daltro.
Pai preso – No dia 31 de maio deste ano, o sargento da reserva da Polícia Militar José Sampaio da Rocha, pai de Adriano da Rocha, foi alvo de mandado de busca e apreensão em sua casa em investigação sobre venda ilegal de munição contrabandeada do Paraguai. O soldado da ativa Valdemir da Silva também foi alvo da mesma operação.
Os mandados eles foram cumpridos por policiais do SIG, Defron (Delegacia de Fronteira) e Corregedoria da Polícia Militar.
José Sampaio da Rocha e Valdemir foram acusados de vender a criminosos de Dourados as munições trazidas do Paraguai. Levado para a 1ª Delegacia de Polícia Civil, o sargento reformado foi autuado em flagrante por tráfico internacional de munição, já que na casa dele foram encontradas balas de origem estrangeira calibre 38. O soldado foi ouvido e liberado.
O flagrante de José Sampaio da Rocha foi transformado em preventiva e no dia 6 de junho o juiz Luiz Alberto de Moura Filho, da 1ª Vara Criminal de Dourados, negou a liberdade provisória do policial.
A defesa dele entrou com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, mas o recurso ainda não foi julgado e José Sampaio continua preso. O inquérito sobre a venda de munição contrabandeada foi concluído e o caso transferido para a Justiça Federal.