Hamilton iluminado aproveita erro de Vettel: as notas do GP de Cingapura
18 de setembro de 2017Inglês da Mercedes se valeu de batida na primeira volta para ampliar a liderança do campeonato. Agora, tricampeão tem 28 pontos de vantagem para o rival alemão da Ferrari
Lewis Hamilton e Valtteri Bottas, da Mercedes, disseram algo semelhante, sábado, no Circuito Marina Bay, depois de se classificarem em quinto e sexto na definição do grid. Usaram a mesma expressão: “Sairmos daqui com danos menores (marcar o máximo de pontos possível)”. Referiam-se à diferença de performance entre o seu carro e os de Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen, da Ferrari, e Max Verstappen e Daniel Ricciardo, RBR, os quatro mais rápidos na classificação do GP de Cingapura.
Mas não foram necessários mais de 30 segundos de corrida para Hamilton ser o líder. Ainda mais importante: o adversário na luta pelo título e pole position, Vettel, abandonar a prova. O alemão defendeu-se do ataque de Max sem avaliar com precisão as consequências da manobra. A Ferrari se autoeliminou de uma etapa onde planejava obter a terceira dobradinha. As outras duas foram em Mônaco e na Hungria.
Assim, em vez de a F1 deixar Cingapura com Vettel novamente como líder do mundial, diante da esperada vitória neste domingo, os 20 pilotos vão desembarcar em Kuala Lumpur, na Malásia, em menos de duas semanas, com Hamilton podendo até não marcar pontos e Vettel vencer que, mesmo assim, o piloto inglês da Mercedes seguirá em primeiro no campeonato.
Trata-se de uma vantagem significativa restando seis provas para o encerramento de uma das temporadas mais disputadas dos últimos anos.
Esse foi o desdobramento mais importante do evento em Cingapura. A seguir, a análise com nota dos dez primeiros colocados, bem como a de outros protagonistas da imprevisível 14ª etapa do calendário.
Lewis Hamilton – 9
Classificação: Vencedor
Posição no grid: 5º
Carro: Mercedes W08 Hybrid
Nem nos seus sonhos mais sublimes provavelmente lhe veio à mente ganhar a corrida nessa pista desfavorável a Mercedes e ver Vettel, franco favorito, não marcar pontos. Pois, como mencionado, foi o que aconteceu. No sábado Hamilton fez o máximo possível. Os modelos SF70H da Ferrari e o RB13-TAG Heuer (Renault) da RBR eram mais rápidos que o W08 Hybrid da Mercedes. Não dava para fazer melhor que o quinto lugar.
No domingo, largou bem, evitou correr riscos e ganhar a posição de Vettel já na primeira curva, manobra que poderia ter tentando, já que o alemão não tinha a Ferrari nas melhores condições, resultado do impacto da Ferrari de Raikkonen na sua lateral. Hamilton se surpreendeu, alguns metros mais adiante, ao ver Vetter atravessar seu carro na pista, depois de a frente da Ferrari tocar o muro.
Líder, Hamilton correu como quase sempre: veloz ao extremo e a cada ano com menos erros, em condições difíceis, a exemplo de três relargadas provocadas por três presenças do safety car. Outra surpresa para ele foi ver que Ricciardo não tinha ritmo para atacá-lo quando o asfalto secou. Na sexta-feira Hamilton disse que o carro da RBR estava em outro patamar. Ricciardo havia sido impressionantemente rápido.
Tudo deu certo para Hamilton. No GP que deveria ser difícil para a Mercedes. E o piloto inglês fez a sua parte. Aproveitou a oportunidade de ouro surgida com o choque dos pilotos da Ferrari na largada e sabe que, agora, só perde o título se a mesmas circunstâncias favoráveis que o fizeram vencer domingo jogarem a favor de Vettel nas seis etapas restantes. Sempre possível. Soma 263 pontos diante de 235 de Vettel.
Daniel Ricciardo – 8
Classificação: 2º
Posição no grid: 3º
Carro: RB13-TAG Heuer (Renault)
Em 2015 e 2016, Ricciardo foi segundo em Cingapura. Neste domingo, de novo. Em 2014, terceiro. Resumo: quarto pódio seguido do australiano numa das provas mais difíceis do ano. No sábado, foi 26 milésimos mais lento que Max. Mas na corrida sua maior maturidade, capacidade de avaliar a situação, compreensão global da disputa o levaram a outro pódio, sétimo do ano. Nota baixa apenas na largada.
A má largada está relacionada à impossibilidade de Ricciardo lutar com Hamilton pela vitória. A chuva forte antes da largada e mais leve depois limpou a pista, tirou a borracha que aumenta a aderência do asfalto. No piso mais aderente, sexta-feira, em especial à tarde, o carro da RBR não tinha adversários. O cenário das 58 voltas da corrida era outro.
Ricciardo não escondeu a frustração ao ver que quando a pista secou, depois da 30ª volta, ao contrário do que esperava não pôde atacar Hamilton. A maior aderência do piso que o havia feito voar, por casar como uma luva para o carro da RBR, não mais existia.
Valtteri Bottas – 6
Classificação: 3º
Posição no grid: 6º
Carro: Mercedes W08 Hybrid
Chegou ao pódio em razão do acidente que eliminou os três pilotos que estavam na sua frente no grid. Bottas não dispôs de um carro rápido, durante todo o fim de semana, para expor sua capacidade. Este ano sofreu menos de Hamilton quando o W08 não se comporta com equilíbrio, como em Mônaco e na Rússia. Mas em Cingapura aconteceu o contrário. O finlandês tirou menos velocidade do W08. Seu décimo pódio, em 14 etapas, no primeiro ano em um time vencedor, atesta, no entanto, o quão eficiente tem sido Bottas.
Carlos Sainz Júnior – 9
Classificação: 4º
Posição no grid: 10º
Carro: STR12-Renault
É provável que Alain Prost e Cyril Abiteboul, as lideranças da equipe Renault, se entreolharam no fim da corrida e abriram um belo sorriso. Sainz não poderia lhes ter dado melhor notícia. Sua quarta colocação, a mais alta da carreira na F1, mostrou o quanto é capaz, duas semanas depois de completar 23 anos, apenas. Foi o único piloto a optar por deixar os boxes depois do pit stop único, na 27ª volta, a 31 da bandeirada, com pneus supermacios. Os demais optaram pelos ultramacios. A Pirelli distribuiu ainda os pneus macios.
É até provável que Abiteboul faça concessões financeiras a Jolyon Palmer, piloto da Renault, para deixar o time antes do fim do ano para Sainz assumir a vaga desde já. Em 2018 será companheiro do alemão Nico Hulkenberg. Sainz obteve o décimo lugar no grid e, a não ser a má largada, disputou grande corrida, em especial na luta com Sérgio Perez, da Force India, com um carro mais rápido. Na 31ª volta foi empolgante.
Sérgio Perez – 8
Classificação: 5º
Posição no grid: 12º
Carro: VJM10-Mercedes
Largou sabendo que em 2018 seguirá na Force India. Renovou por um ano. Não tinha carro para lutar mais na frente no grid. O VJM10 não gera muita pressão aerodinâmica. Seu companheiro, o talentoso francês Esteban Ocon, largou apenas em 14º. Mas em corrida, especialmente nos 5.065 metros do Circuito Marina Bay, com suas 23 curvas e completa imprevisibilidade, as coisas mudam, essa fraqueza do carro da Force India aparece menos.
Apesar da grande evolução, Perez ainda não é um piloto que se caracteriza por voltas voadoras na definição do grid. Mas ao longo dos 305 quilômetros da corrida está dentre os mais capazes. Como seu desempenho domingo mais uma vez mostrou ao receber a bandeirada em quinto. Um detalhe: sua regularidade contrasta com a irregularidade de Max, com um carro bem mais rápido. Assim, Perez e Max têm o mesmo número de pontos, 68, na sétima colocação do mundial.
Jolyon Palmer – 7
Classificação: 6º
Posição no grid: 11º
Carro: Renault RS17
Compartilhar a escuderia com um piloto dentre os mais rápidos, constantes e técnicos da F1, o alemão Nico Hulkenberg, desestabilizou Palmer, campeão da GP2 em 2014. A tentativa de querer acompanhar um profissional mais completo explica a maior parte dos erros do piloto inglês que, em 2018, será substituído por Sainz Júnior. Mas em Cingapura correu muito bem.
Nem tanto na classificação, ao ficar em 11º ao passo que o alemão, em sétimo. Mas na corrida, sim. Palmer deu-se bem na largada ao completar a primeira volta em sexto. E com uma tocada regular e sem erros, no fim conseguiu manter a posição. Seu pai, Jonathan Palmer, o ofereceu a Claire Williams para substituir Massa em 2018. Jonathan estreou na F1 pela Williams, no GP da Europa de 1983, em Brands Hatch, Inglaterra. A imagem do filho está bastante desgastada, expôs suas limitações.
Stoffel Vandoorne – 8
Classificação: 7º
Posição no grid: 9º
Carro: McLaren MCL32-Honda
Para um piloto que não conhecia o desafiador traçado do Circuito Marina Bay, ficar em nono no sábado a 219 milésimos de um especialista, o companheiro, Fernando Alonso, duas vezes vencedor (ok, verdade, 2008 não valeu), representa uma boa indicação do que esse competente piloto belga pode fazer.
Na corrida, precisou ir para fora da pista, na curva 1, depois da largada, a fim de não se envolver no acidente com Raikkonen, Max e Vettel. Perdeu duas posições. Mas como o chassi da McLaren é rápido e a importância da unidade motriz (PU) desenvolver potência é menor, as deficiências da Honda apareceram menos. Vandoorne obteve sua melhor colocação na carreira até agora. Com méritos.
Lance Stroll – 7
Classificação: 8º
Posição no grid: 18º
Carro: Williams FW40-Mercedes
As dificuldades da Williams estão ficando ainda maiores por causa de o time se desinteressar em desenvolver o atual modelo. O de 2018 será completamente diferente. E numa pista onde a geração de pressão aerodinâmica é essencial, Stroll e seu companheiro, Felipe Massa, não tinham muito o que fazer na classificação. Stroll ficou em 18º e Massa, 17º. Mas não justifica, também, os dois baterem no Q1.
Na corrida, Stroll ganhou várias posições com o caos da primeira curva. Terminou a primeira volta em 13º, já na frente de Massa, 14º. Contou com a estratégia mais evidente, adotada por quase todos, ao manter-se na pista com os pneus intermediários até a 26ª volta e sair com ultramacios. Massa manteve-se com os pneus de chuva, talvez por apostar que choveria novamente. Não funcionou. Perdeu tempo.
Apesar de raspar o muro e dar breves escapadas da pista, o ritmo de Stroll era bom para as limitações do carro da Williams. Marcou mais quatro pontos, levando-o a 28, o 12º no mundial, diante de 31 de Massa, o 11º.
Romain Grosjean – 6
Classificação: 9º
Posição no grid: 15º
Carro: VFH 17-Ferrari
Como a Williams e a Force India, a equipe Haas tem um carro que não gera elevada pressão aerodinâmica e num traçado como o do fim de semana isso é capital. O francês lutou com o VFH17 no sábado, para obter o 15º lugar no grid. E correu no ritmo permitido, limitado. Contou com seis abandonos, Vettel, Max, Raikkonen, Alonso e Kvyat e Hulkenberg, mas foi ultrapassado por Stroll.
Esteban Ocon – 6
Classificação: 10º
Posição no grid: 14º
Carro: VJM10-Mercedes
A exemplo de Bottas, o francês não teve um grande fim de semana. Foi mais lento que Perez, como o finlandês com Hamilton. Ocon e Bottas são pilotos mais eficientes do que o GP de Cingapura mostrou. Ele largou em 14º e terminou em décimo. Perez, saiu do 12º lugar para receber a bandeirada em quinto.
Outros pilotos:
Sebastian Vettel – 5
Classificação: Abandonou
Posição no grid: Pole position
Carro: SF70H
Dentre os 20 pilotos que disputam o campeonato, provavelmente é o mais eficiente. Se o título fosse atribuído ao melhor piloto do ano, independente dos números, em uma eleição no paddock, com profissionais da F1, as chances de Vettel vencer seriam boas. Corre com ainda maior competência de quando foi quatro vezes campeão do mundo, com a RBR, de 2010 a 2014.
Na classificação, sábado no Circuito Marina Bay, chamou para si a responsabilidade e com uma volta difícil de adjetivar Vettel estabeleceu a pole position, raspando o muro com a roda traseira esquerda.
Isso é uma coisa. Outra, a reação de se defender do ataque de Max, na largada, sem medir as consequências, sem clareza de ideia a respeito do que aquela situação, com Max preso entre ele e Raikkonen, poderia gerar. O acidente era iminente.
Perder a liderança do mundial, em Monza, dia 3, pela primeira vez no ano, deve ter a ver diretamente com sua decisão instintiva de fechar a porta para Max, sem levar em conta como os carros estavam dispostos na disputa. Teve responsabilidade direta no seu abandono, bem como no de Max, Raikkonen e Alonso. E não será nada fácil retomar a liderança do mundial.
Max Verstappen – 8
Classificação: Abandonou
Posição no grid: 2º
Carro: RBR 13-TAG Heuer (Renault)
Brilhante na definição do grid, ao obter o segundo tempo. Só não conseguiu a pole porque Vettel é um superpiloto. Na largada, não teve responsabilidade alguma no acidente. Ao ver que não tinha espaço entre Vettel e Raikkonen, reduziu a velocidade. E foi o fato de seu carro ficar para trás que fez com que a roda traseira direita de Raikkonen tocasse na sua dianteira esquerda, projetando-o, com violência, na direção da lateral de Vettel.
Kimi Raikkonen – 7
Classificação: Abandonou
Posição no grid: 4º
Carro: SF70H
Não foi brilhante na classificação, como em Mônaco, por exemplo, quando ficou em primeiro, e tem sido nos últimos sábados. Raikkonen ficou distante de Vettel, 578 milésimos. Na largada, conseguiu o mais difícil. Estava no lado sujo da pista e com água. Mesmo assim, foi o mais eficiente de todos. Colocou o carro no lado esquerdo de Max para ultrapassá-lo na freada da curva 1.
O que Raikkonen não contava era que Vettel teria o mesmo comportamento do GP da Bélgica do ano passado, em Spa-Francorchamps, também na largada. O alemão espremeu Raikkonen entre ele e Max na curva 1. Houve um choque tríplice provocado por Vettel. Exatamente como domingo, em Cingapura. O finlandês fez o seu papel de tentar ganhar a posição de Max e, se desse, também a de Vettel, ainda que depois a Ferrari criaria uma forma de ele repassar a liderança para o alemão.
Raikkonen não teve responsabilidade alguma no acidente, domingo.
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