Onde se esperava empolgação, encontrou-se maturidade. Mais do que o bom futebol apresentado no 2 a 0 sobre o Volta Redonda (veja os melhores momentos acima), o Flamengo voltou ao Rio de Janeiro confiante no desenvolvimento da garotada que assumiu a bronca na estreia da Taça Guanabara, enquanto a equipe principal realiza pré-temporada.
Os celulares deixados de lado e o silêncio que reinou no vestiário do Raulino de Oliveira agradaram comissão técnica e diretoria. Os dirigentes viram no poder de concentração dos meninos um trunfo para aflorar a qualidade técnica.
Paulo César Carpegiani, 68 anos, carrega consigo o perfil “à moda antiga”. As caixas de som que amplificam os hits do momento e embalam dancinhas não fazem o seu feitio. O mesmo vale para as incontáveis redes sociais que conectam jogadores ao resto do mundo minutos antes de a bola rolar.
Campeão do mundo 36 anos atrás, é adepto de canalizar energias no compromisso que vem a seguir. E foi assim, já no vestiário, que ele acredita que o Rubro-Negro começou a ganhar os três pontos da estreia no Carioca.
Apesar da média de idade baixíssima, beirando os 20 anos, a nova geração, que já nasceu inserida no mundo tecnológico, voltou no tempo. Pelo menos, no comportamento. Eletrônicos que pudessem causar distração foram substituídos por fisionomias mais sérias e concentração.
O que cada um deles tinha pela frente poderia ser uma chance única em um elenco estelar. E Carpegiani fez questão de condicionar o desempenho a essa postura que até ele considerou surpreendente:
– Vi um grupo muito tranquilo. Por incrível que pareça, ninguém com o celular. Estou acostumado com profissionais onde há a música, a descontração, coisa que não é muito boa, não. Os meninos estavam concentrados e veio aquele ponto de interrogação: “O que será que eles estão pensando?”. Era concentração total. Disseram: “Isso aqui é Flamengo e vamos partir para decidir o jogo”.
Tamanha concentração foi transformada em intensidade com a bola rolando. Desde o apito inicial, parecia que o Volta Redonda era o time de garotos assustados. Com velocidade, o Flamengo se mandou para o ataque e pressionou a saída.
Incansável, Lucas Silva corria de um lado para o outro obrigando os defensores adversários a rifarem a bola. O atacante também era quem mais dava opções quando o Rubro-Negro tinha posse – quase sempre graças ao equilíbrio do trio Jonas, Jean Lucas e Ronaldo no meio-campo.
Melhor durante os 90 minutos, o Fla construiu a vitória curiosamente nas raras vezes em que o Voltaço se lançou ao ataque. Veloz e vertical, o time soube aproveitar os espaços para marcar com Lucas Silva e Pepê em contragolpes. Vitória merecida de um time que usou a tão elogiada concentração também para reduzir os erros normais em início de temporada.
Mesmo após a partida, na zona mista, no auge da empolgação, os jovens rubro-negros mantiveram o desprendimento. Questionados se a vitória na estreia tinha gerado uma tempestade de mensagens em aplicativos de bate-papo, disseram que iam deixar para ver depois. Não vão encontrar nenhum recado de Carpegiani, mas os aplausos no vestiário do Raulino deixam a certeza que ele gostou. E não só do futebol.