MULHER MARAVILHA NÃO RESPIRA
18 de setembro de 2017Por Jackeline de Lara*
Impressionante o contexto em que a mulher atualmente está inserida, e dominada como que em uma teia de aranha, da qual não consegue sair. Se em tempos atrás além de boa imagem, ela deveria ser exemplo de esposa, mãe, e religiosa, hoje lhe é cobrado ser exemplo de profissional, mãe, filha, amiga, irmã, neta, religiosa, aparência perfeita, parceira nas finanças da casa, e sempre com um sorriso e uma disposição contagiantes para os eventos com amigos, sem falar do desempenho que deve ter na cama, para satisfazer o parceiro.
Sou uma mulher de uma família que tem muito mais mulheres que homens, sempre trabalhei com mulheres, e por ser comunicativa vivo cercada de amigas. Como se sabe, mulheres quando se juntam, não há segredo que resista, e é ali que expomos, sem máscaras, o que vivemos, “quase tudo”, nossas alegrias e dores, como somos parecidas, e como nossas lutas são iguais.
Hoje falarei sobre as casadas, que ainda tentam preservar as promessas e juras do matrimônio, mesmo que muitas vezes “falido”.
Ela se apaixona, se casa, vive momentos maravilhosamente eternos, e com o passar dos anos descobre que seu príncipe na verdade é um sapo, sim, aquele homem romântico, fiel, que “Deus lhe enviou”, lhe trai, física ou virtualmente, e a decepção, grita tão alto, que faz seu coração parecer que vai explodir, mas desta vez não de amor, paixão, admiração, mas de tanta dor, aquela dor tão forte quanto o amor que um dia conheceu, mas agora resta apenas o medo do porvir, e após o susto, se inicia a busca pela cura da ferida aberta.
Algumas se afundam no alcoolismo, consumismo, outras em antidepressivos, há as que mergulham no cuidado com a casa, ou trabalho, religião, e até as que se escondem atrás dos filhos e netos, onde criam seu próprio mundo, onde a paixão jamais poderia fazer parte daquele lugar. A paixão é um sentimento alimentado pela admiração, e existem mulheres que acreditam não sobreviverem sem aquele acelerar de coração, e o tremor nas mãos, junto a alegria na alma, essas normalmente, até decidirem o que de fato fazer, se envolvem com uma terceira pessoa, são as chamadas vagabundas, putas, biscates, pela sociedade, nunca um ser humano que teve seus sonhos roubados, por alguém que fez pior com ela. Ele, o macho, o homem, o viril, o ingênuo que caiu na sedução de uma ou mil prostitutas, merece misericórdia, e se ele pedir perdão então, nossa, ele é apenas alguém que caiu e precisa de ajuda, já ela não, ela se sujou com uma mancha que nunca mais sairá, não respeitou os filhos, o esposo que embora adúltero, era carinhoso com os filhos, trabalhava, ou apenas tinha um pênis, não importa, era homem, e agora se ele a aceitar, ela lhe deverá eternamente sua alma, seu corpo, e todos os deveres que um “deus” merece.
Não há lugar para nós em um ambiente tão machista como o mundo em que vivemos, sim, os meios de comunicação são machistas, a igreja, e até a escola é machista. Somos produto do machismo e continuamos a reproduzir em nossos filhos, relações de trabalho, amizade, todo o lixo que recebemos, é algo enraizado em nós, e infelizmente não descobrimos ainda o antídoto que poderia acabar com essa escravidão que fomos e somos submetidas em nosso dia a dia onde quer que estejamos. Em todas as situações, não importa a postura da mulher, ela será sempre a causadora dos danos ao homem, à sociedade, é melhor que ela não respire.
* Jackeline de Lara, graduada em Pedagogia, especialista em Educação Especial e em Educacão Infantil e Séries Iniciais, proprietária do Espaço Kids. Casada e mãe de duas lindas filhas.
Profunda e real a exposição do texto. Realmente, nós mulheres somos taxadas por dogmas sociais machista, como seres inferiores que precisam do comando do homem como “cabeça pensante” e com o poder de oprimir, de bater e de até matar. Poder esse muitas vezes legitimado pela própria mulher quando ensina para o filho que sendo macho ele pode tudo. No entanto, pela luta e pela coragem já estamos vencendo muitas barreiras e espero que a busca por respeito e direitos iguais continue como bandeira e lema de vida. Boa tarde!
Obrigada Maria
Parabéns, escreveu de forma clara e objetiva o cotidiano das mulheres atuais. Que mesmo em face dos afazeres enfrentam o ideário de manter -se maravilhosas. Felizmente na contra mão deste discurso encontramos um ideário de fazendo ” o discurso do des-sacelerar, desapegar… Desfazer malas” Enfim de tantas ditos e não ditos urge ser feliz…
Obrigada Joana