O telescópio Hubble passa por problemas

O telescópio Hubble passa por problemas

12 de outubro de 2018 0 Por meums
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Na sexta-feira (5), chegaram notícias da NASA que deixaram preocupados todos que gostam de astronomia. A mensagem dizia que o telescópio espacial Hubble estava em modo de segurança, o que acontece com relativa frequência, mas dessa vez o problema é mais sério.

Você já se perguntou como o Hubble se orienta no espaço para fazer as imagens fantásticas que a gente vê por aí? Então, ele não usa retrofoguetes, como muita gente acha. Para fazer isso por mais de 10 anos, imagine a quantidade de gás que ele precisaria transportar em órbita. Ao invés disso, ele usa 6 giroscópios, discos pesados em altíssima rotação que a partir do princípio da conservação do momento angular não só faz o Hubble apontar para a posição correta com altíssima precisão, mas também o mantém nessa posição.

O telescópio possui 6 giroscópios, mas apenas 3 estão sempre em operação, tipo um para cada coordenada espacial, x, y e z. Os outros 3 ficam de backup, sendo que um deles é mantido em separado para uso em extrema necessidade apenas. Como são peças móveis, seu desgaste é certo e quando falamos em tempo de vida útil do Hubble, estamos falando em quanto tempo os giroscópios vão resistir. Por esse motivo eles foram trocados durante as missões de manutenção: 4 deles em 1993 e todos os 6 nas missões de 1999 e 2009. Na última missão, que deve ser a derradeira, os giroscópios foram trocados por um modelo melhor que garantiria uma vida útil maior do que os 10 anos dos modelos anteriores.

Pois bem, na sexta-feira passada, a NASA soltou um comunicado dizendo que o telescópio espacial precisou ser colocado em modo de segurança por causa de uma falha em um dos seus giroscópios. Modo de segurança significa que o telescópio para suas atividades, fecha sua tampa e se posiciona de tal maneira que seus painéis solares possam ser plenamente iluminados, garantindo muita energia e que também a antena de comunicação fique apontada para a Terra. Isso acontece de vez em quando, durante tempestades solares ou chuva de meteoros muito intensa, por exemplo.

O problema com os giroscópios é mais sério, pois, dos seis trocados em 2009, dois já tinham pifado. Com a falha do terceiro, apenas 2 ficaram operacionais e foi necessário “acordar” aquele que fica de reserva. Foi aqui que o bicho pegou.

Assim que começou a girar, a telemetria mostrou que o giroscópio mantinha um comportamento errático, impedindo de manter a estabilidade do conjunto. Como esse giroscópio em particular foi mantido todo esse tempo em repouso, esperava-se que ele se comportasse como novo, entrando em operação sem nenhuma ressalva, mas do jeito que ele está, não pode ser usado.

Por precaução o telescópio foi posto em modo de segurança e um painel de especialistas foi convocado pela NASA para analisar o ocorrido, inclusive com os fabricantes das peças. A missão do painel é não só identificar as causas da falha, mas também propor soluções e estratégias para evitar falhas também nos outros dois giroscópios saudáveis.

E se o pior acontecer e ele pifar definitivamente?

O Hubble pode operar com apenas dois giroscópios, mas com desempenho limitado. Por exemplo, ele não vai conseguir acessar qualquer parte do céu a qualquer momento. A cada órbita haverá sempre uma região inacessível para observar, de modo que será necessário aguardar a órbita mais propícia para fazer as medidas. Além disso o telescópio vai perder um pouco da precisão do apontamento e da estabilidade deste apontamento. Projetos como o que permitiram obter a imagem de campo profundo que ficou famosa alguns anos atrás não poderão ser executados. Para falar a verdade, o telescópio poderia operar com até mesmo um único giroscópio, de forma muito limitada é claro, mas ainda não estaria completamente inútil.

A situação é delicada, mas ainda não representa o fim das operações do instrumento científico mais popular de todos os tempos. Muito preocupante é o fato de que quando os giroscópios foram instalados, era esperado que eles funcionassem uns 12 anos, se não me engano. A vida útil deles era em torno de 10 anos, mas em ambos os cenários, quando eles começassem a pifar, o novo telescópio espacial já teria sido lançado. Só que dá última vez que eu chequei o lançamento está previsto apenas para 2021!

Em 2009, quando o telescópio passou pela última missão de manutenção, ele operava com 2 giroscópios para aguentar até a chegada dos astronautas, mas isso agora não é mais possível. Quer dizer, possível até é, mas não vai acontecer.

Primeiro porque o veículo de “resgate”, os ônibus espaciais, foram aposentados por serem caros e inseguros. A NASA não tem mais foguetes que operem em órbita baixa como a do Hubble e nenhum dos veículos comerciais atualmente em uso faz voos tripulados, apenas a agência russa. Uma última possibilidade, teórica, seria manobrar o telescópio de alguma maneira até a estação espacial para sofrer os reparos necessários depois de acoplado. Mas sinceramente isso está mais no campo dos filmes do que da realidade.

Se o painel de especialistas não conseguir resolver o problema com o giroscópio problemático, o Hubble deve voltar a operar com apenas dois e ir levando até que o último deles pife também. Isso faria do telescópio um instrumento operacional, porém inativo. Os outros equipamentos têm uma expectativa de funcionar normalmente até 2030, mas sem poder apontar e acompanhar um objeto, ele será um morto vivo espacial.


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