Papa Francisco visita Iraque em meio à pandemia de Covid
5 de março de 2021O Papa Francisco chegou ao Iraque nesta sexta-feira (5) para a viagem de número 33 de seu pontificado, com o objetivo de transmitir uma mensagem de paz e reconciliação no país, que está confinado pela pandemia e foi afetado por anos de violência.
Em Bagdá, ele defendeu a luta contra a corrupção e os abusos de poder, e pediu o fim da “violência”, dos “extremismos” e “intolerâncias”.
“É preciso construir justiça, fazer crescer a honestidade, a transparência e fortalecer as instituições”, disse ele.
“Chega de violência, extremismos, facções, intolerâncias”, afirmou.
Ele ainda criticou as “atrocidades sem sentido” cometidas pelo grupo extremista Estado Islâmico em 2014 contra a minoria yazidi, onde milhares de mulheres foram transformadas em escravas sexuais.
“Não posso não recordar os yazidis, vítimas inocentes de atrocidades sem sentido e desumanas, perseguidos por causa de sua afiliação religiosa, cuja identidade e sobrevivência foram ameaçadas”, disse ele, em discurso às autoridades iraquianas.
De acordo com analistas, esta é a viagem mais arriscada de Francisco em seus nove anos como Papa. Ele viajou sob forte esquema de segurança.
Veja abaixo o que motiva e quais dificuldades o papa pode enfrentar:
Que lugares o papa vai visitar?
O pontífice, que já foi vacinado contra a Covid-19, visitará Bagdá e Erbil, duas cidades que foram cenários de ataques com foguetes contra alvos americanos recentemente.
Membro das forças de segurança iraquianas passa diante de cartas de boas-vindas ao Papa Francisco no Iraque — Foto: Reuters/Teba Sadiq
Apesar dos riscos, Francisco manteve a agenda e declarou que não se pode decepcionar “pela segunda vez este povo”, depois de recordar o cancelamento da visita em 1999 de João Paulo II.
Mulher caminha perto de pôster que dá boas-vindas ao Papa Francisco em Bagdá em 4 de março — Foto: Reuters/Teba Sadiq
No sábado, o papa visitará Ur, uma etapa com fortes vínculos espirituais, pois a área foi o berço do cristianismo, a terra do profeta Abraão, pai das três religiões monoteístas.
No mesmo dia ele se reunirá na cidade sagrada de Najaf, no sul, com o grande aiatolá Ali Sistani, de 90 anos, principal autoridade para os xiitas no Iraque, um gesto a favor do diálogo com todos os muçulmanos.
Quais os desafios da viagem?
A visita papal não representa apenas um desafio do ponto de vista religioso, mas também logístico e sanitário, com um novo pico de contágios de coronavírus de 4.000 casos diários no Iraque.
A visita do pontífice argentino ao Iraque será marcada pela ausência de multidões e o obrigará a utilizar um automóvel blindado em seus deslocamentos.
Apenas no estádio de Erbil, com capacidade para 20.000 pessoas, ele falará para 4.000 fiéis na missa dominical, segundo fontes locais.
O pontífice também tem uma escala programada para Mossul, que foi reduto dos extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).
Que mensagem o papa quer levar aos iraquianos?
Papa Francisco confirma visita ao Iraque e pede orações para que a viagem transcorra bem
O Papa Francisco já enviou antecipadamente uma mensagem emocionada aos iraquianos, na qual defende a reconciliação nesta terra, berço das religiões, afetada por anos de violência e guerras.
“Vou como peregrino […] implorar ao Senhor perdão e reconciliação, após anos de guerra e terrorismo […] e vou entre vocês como um peregrino da paz”, declarou.
“Anseio conhecê-los, ver seus rostos, visitar sua terra, antiga e extraordinária, berço da civilização”, afirmou o pontífice argentino, que deseja cumprir o sonho do papa João Paulo II, que não conseguiu viajar ao Iraque.
“Vou como um peregrino da paz em busca da fraternidade, animado pelo desejo de rezar juntos e caminhar juntos também com irmãos e irmãs de outras religiões”, ressaltou, em referência a um país majoritariamente muçulmano, onde os poucos cristãos que conseguiram permanecer ainda sofrem ameaças e agressões.
Em sua mensagem, Francisco se dirige a muçulmanos, judeus e cristãos como “uma só família” e os incentiva a “seguir adiante”, que não se rendam, para reconstruir e curar feridas.
“A vocês, cristãos, muçulmanos; a vocês, povos como os yazidis, que tanto sofreram; a todos vocês. Vou para a vossa terra abençoada e ferida como um peregrino da esperança”, explicou.