TDAH ou dislexia: a dúvida que preocupa pais e educadores
13 de outubro de 2021Olhar atento para detecção precoce pode garantir melhor qualidade de vida e aprendizado, afirma médico
Ao contrário do que muitos pensam, a dislexia, assim como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), não é o resultado de má alfabetização, desmotivação, condição socioeconômica ou baixa inteligência. Ela é uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico. É com a intenção de colaborar para o esclarecimento acerca dessas duas patologias que preocupam pais e educadores que entrevistamos nesta edição o pediatra Eduardo Marcondes, estudioso do assunto e que recebeu O Progresso para, somando outros estudos, desfazer alguns mitos.
“A dislexia é uma dificuldade de leitura e escrita que pode afetar também a percepção dos sons da fala e se manifesta inicialmente durante a fase de alfabetização. É uma condição de aprendizagem de base genética, ou seja, tem natureza hereditária”, explicou o pediatra, acrescentando que existem vários genes envolvidos nesta condição e pesquisadores no mundo todo estão trabalhando para identificar quais são esses genes. “A dislexia consta da Classificação Internacional de Doenças (CID), que descreve suas características e sintomas. Estima-se que 4% da população brasileira tenham dislexia. Portanto são mais de 7 milhões de pessoas convivendo com o problema”, ponderou Marcondes.
“Já o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico que causa desatenção, hiperatividade e impulsividade. A maior prevalência é em crianças, mas o diagnóstico demorado e a falta de tratamento adequado pode fazer com que os sintomas sejam levados para o longo da vida. No CID o TDAH entra na categoria “Transtornos hipercinéticos”, categorizado como Transtorno de déficit da atenção com hiperatividade”, disse o pediatra. “Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, são aproximadamente 3 a 5% de crianças com TDAH no Brasil. Já o TDAH em adultos estima-se prevalência de cerca de 4%. Existem três tipos de TDAH, segundo o DSM. IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais): TDAH com predomínio de sintomas de desatenção, TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade e TDAH combinado.
A dúvida sobre se a criança tem dislexia ou TDAH, segundo Marcondes, se deve à semelhança dos sintomas. Embora semelhantes, geram reações diferentes. Os Sintomas de TDAH são desatenção hiperatividade, impulsividade, dificuldade de concentração, esquecimento de tarefas e dificuldade em absorver detalhes, por exemplo.
No caso da dislexia, continua o médico, embora tenha natureza hereditária, o fato de um dos pais ter dislexia não significa necessariamente que os filhos também terão. “A herança genética aumenta a tendência para desenvolver a dislexia, ou seja, é maior a probabilidade da criança apresentar o problema caso um dos pais seja portador. Mas, se ela tiver dislexia, vários fatores podem contribuir para atenuar ou reforçar os sinais, como o estímulo que ela tem em casa e o ambiente sociocultural, que pode oferecer a ela recursos para lidar com suas dificuldades”, enfatizando que mesmo em gêmeos idênticos a manifestação pode ser diferente.
“Dentre os sinais de dislexia estão leitura com erros de reconhecimento das palavras, leitura não fluente de textos e com alteração de ritmo e entonação (por exemplo, leitura de sílaba por sílaba), dificuldade de compreensão de textos, escrita com erros de ortografia, inversão de letras e/ou sílabas, leitura e escrita com rendimento abaixo do esperado para a idade e a escolaridade”, explicou Marcondes, enumerando a série de sintomas que se nota sobretudo na escola. “Ao ser identificada a dificuldade para o aprendizado da leitura e da escrita, a criança é encaminhada para a avaliação de uma equipe multidisciplinar composta, em geral, por um pediatra, um fonoaudiólogo e um psicólogo que farão as avaliações específicas. São aplicadas provas e testes para avaliar o nível de leitura, o vocabulário e habilidades específicas, como memória, atenção e velocidade de processamento”, continuou.
“No que tange ao tratamento da dislexia não há prescrição de medicamentos, e, sim, adaptações pedagógicas aliadas ao atendimento especializado. O tratamento varia de acordo com a dificuldade e a idade da criança ou do jovem. Algumas crianças conseguem se alfabetizar apesar das dificuldades, utilizando figuras e outros elementos visuais e contando com o estímulo dos pais e professores para melhorar a compreensão, por exemplo”, disse.”Uma forma de fazer isso é conversar sobre o que foi apresentado, seja um filme, uma peça de teatro ou outro recurso. São coisas simples que podem ser feitas no dia a dia”, sugeriu.”No caso do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) não é considerado um transtorno específico de aprendizagem, mas pode afetar o desempenho escolar quando o grau de desatenção é grande, e neste caso o tratamento com medicamento pode ser recomendado”, avaliou Marcondes. “A maior prevalência é em crianças, mas o diagnóstico demorado e a falta de tratamento adequado pode fazer com que os sintomas sejam levados para o longo da vida. Nos dois casos, dislexia ou TDAH, o recomendável é o olhar atento de pais e professores para o comportamento e a detecção precoce do problema. Se bem tratado, essas crianças podem ter melhor qualidade de vida e aprendizado”, conclamou o pediatra.
Fonte: Dourados Agora