Um pedaço de Deus

Por Jackeline de Lara*

Nem sempre é fácil lidar com as portas fechadas na cara, na verdade um não à coisas, ou uma vida que gostaríamos de viver, é algo muito doloroso, principalmente  quando não é realmente o que esperávamos. A sensação de soco no estômago, nos faz muitas vezes adoecer. O novo assusta, tomar atitude incomoda, não ter o que tanto queremos machuca, e talvez com mais intensidade conforme nosso grau de maturidade.

Nós mulheres fomos educadas para superar as percas, as decepções, penso que a sabedoria que guia as fêmeas, organizou a educação desta forma, como um escudo, para proteger da força bruta, e as vezes cruel de algumas fases da vida.

Observando as mulheres maravilhosas que conheço, da família, amigas, outras companheiras  de trabalho, vejo a capacidade extraordinária com que convivem, e até superam suas dores, cada uma a sua maneira, mas superam, e se não superam, fazem do próprio sofrimento, auxílio para as demais, e mesmo quando inimigas entre si, a dor da outra as une, porque há algo secreto e divino na mulher, ela não precisa perdoar para cuidar, para auxiliar, e até proteger, é como se dentro de cada uma, houvesse como doação um pedaço de deus, que independentemente dela merecer, ou querer, está ali, gratuitamente.

Maria mãe de Jesus sabia que aquele povo todo mataria seu filho, ela tinha certeza, imagino suas noites e seus dias, por mais fé tivesse, Jesus era seu menininho, sua alegria, seu bebê, então penso em como aquela mulher que na verdade era uma adolescente ainda, passava os segundos de sua vida, como mãe, acredito que seu coração era muito dolorido, e como ninguém ela conheceu a angústia, a ansiedade, a sensação de impotência diante de uma injustiça tão bárbara e cruel, mesmo assim, ela o ensinou a amar e se doar independente das circunstâncias, coisas que sinceramente não aprendi, e não acredito que aprenderei dessa vida para outra, e é nos pequenos detalhes que podemos nos conhecer e conhecer os outros, e quando alguém olha de forma diferente para nossos filhos, somos capazes de uma atrocidade, imagina um filho perfeito em tudo, inclusive em bondade, generosidade, amor. Quando uso Maria como exemplo de mulher, é porque ela é o exemplo claro de tudo o que uma mulher deveria e poderia ser, ela enfrentou com garra cada segundo de tortura, viveu com intensidade cada fase maravilhosa, o medo não dominou sua mente, sua vida, e sua capacidade extraordinária de fazer o que era certo, mesmo que contra seu querer, mesmo que morrendo dia a dia mostra que ela nunca se curvou para o homem, para o ser humano, mas apenas para deus. Ela sabia que poderia ser morta quando sua barriga crescesse, ela sabia que poderia perder o grande amor da sua vida, o homem que ela sonhava viver em amor, paixão, todos os seus dias, mas acima de tudo isso ela sabia quem ela era, seu espírito gritava dentro dela sobre a eternidade, ela podia sentir a espiritualidade ao seu redor, o que fazia ela sentir com convicção que vivia uma vida imortal e também mortal, tendo a condição de saber então, distinguir uma da outra, e agir de acordo com o que sua sabedoria, com tão pouca idade, lhe conferia. Se por um lado ela sentia toda dor, paixão, tentação que a vida lhe proporcionava, por outro, ela também sentia a certeza de que mesmo em meio à tempestades, é necessário continuar remando o barco, pois em algum lugar, em algum momento tudo passará.

Viver em harmonia consigo mesma é o segredo, ser você sua melhor amiga, dar e seguir os próprios conselhos como se estivesse dando à mulher mais amada de sua vida, como uma filha por exemplo. Crescemos a cada dia, isso é fato, imutável é só Deus, desta forma, vamos procurar fazer, e não é fácil, bem pra nós mesmas, filtrar pensamentos, melhorar a alimentação, praticar ao menos uma breve caminhada todos os dias, tomar um banho demorado, sair com as amigas, assistir TV acompanhada ou sozinha, não importa, o importante é fazer o que traz paz ao coração, alegria à alma, aquelas coisas que fazemos e nos faz felizes porque, inclusive, sentimos deus sorrindo para nós. Busque sua liberdade nas pequenas coisas, como proibir que interrompam seu banho, seu sono, seu momento de leitura, seu telefonema, etc… Mas tenha momentos que te tragam alegria e descanso, sem culpas, sem preconceitos, ou preocupação com o que nossa cultura ultrapassada e machista prega, não abra mão disso, não abra mão da mulher que você pode e precisa ser, e tente ser grata a cada não que a vida lhe der, lá na frente você entenderá que era o dedo de Deus em tudo.

* Jackeline de Lara, graduada em Pedagogia, especialista em Educação Especial e em  Educacão Infantil e Séries Iniciais, proprietária do Espaço Kids. Casada e mãe de duas lindas filhas.