Meu corpo, minhas regras

Meu corpo, minhas regras

3 de outubro de 2017 2 Por meums
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Por Jackeline de Lara*

A liberdade é tão desejada que, nessa busca, pais e filhos se separam, marido e mulher se tornam inimigos, irmãos tornam-se desconhecidos. Deus, que é soberano, também sonha com a liberdade, a libertação da humanidade.

O que vem a ser a liberdade? Ler o que quero? Ir e vir sem dar explicações à ninguém? Se sentir livre de responsabilidades? Ter o privilégio de fazer o que bem entender, sem dar satisfações à ninguém? São tantas as definições que às vezes nos perdemos em pensamentos e não conseguimos chegar a uma conclusão.

A liberdade vai além de tudo o que sempre li, ouvi e, o mais importante, vai além de tudo o que pensei ser sinônimo de libertação, porque ser livre, é estar em paz, e o sentimento de paz é algo que vem da alma, do espírito, da mente, do coração, e são consequências também de nossas ações. Não é possível se sentir liberto, se há amarras em seu emocional, mesmo que não haja em seu corpo físico. As correntes da lembrança, tem o laço mais forte e doloroso, que as correntes de aço e, com certeza, seus danos são muito difíceis de serem esquecidos, curados.

Sou uma mulher que anseia por liberdade, em todos os seus ângulos, e a quero para todas as mulheres da mesma forma. Em meu dia a dia, em todos os meus passos, e atitudes, tento ao máximo, elevar o feminismo, que apesar de algumas contradições, ainda é um movimento necessário, de fundamental importância, e responsável, abaixo de Deus, por todos os direitos que mesmo à passos lentos, temos alcançado no decorrer da nossa história. Por desejar viver em paz, livre, meu corpo, assim como minha vida, sempre tiveram minhas regras, e nunca abri mão de não fazer dele algo descartável, um ponto turístico, onde é visitado por vários para satisfações diversas, em que na verdade, meus sentimentos seria o que menos importasse.

É necessário não confundir a luta por direitos iguais aos dos homens, com defeitos, iguais aos dos homens. Não lutamos por defeitos, mas por direitos.

Todos temos nossas fraquezas, carências, sede por carinho, segurança, proteção, um ombro, um colo, mas se o preço para se obter tudo isso, for lembranças que embrulhem o estômago, é necessário correr sem olhar para trás. Não vale a pena.

Quando falo nas regras do meu corpo, não posso esquecer que outro ser, é outro corpo, sendo assim, da mesma forma que quero que minhas regras sejam respeitadas, é necessário, que eu respeite outro corpo, mesmo que ele esteja dentro de mim.

Um bebê, um feto, uma semente, um esperma, dê o nome que achar melhor, mas seja o que for, nada mudará o fato de que há uma vida, uma vida inocente dentro de mim, de você, e isso um dia trará dores, culpas, tormentas. Matar uma criança, é algo horrível, covarde, macabro, perverso,  é a crueldade em seu estado máximo, e  não pode ser encarado de outra forma, porque é isso o que em suma é.

Quem sou eu para julgar alguém, tenho defeitos piores que os que mostro, tenho minhas misérias, e são imensas e numerosas, mas quando afirmo que o aborto é um crime, que deveria ser tratado como hediondo, é porque é um crime hediondo, e deve sim ser tratado como tal, não acredito que estou fazendo um julgamento, mas desejando justiça e proteção para essas crianças que ainda não podem se defender, da mesma forma que a mãe que aborta, não está em condições emocionais de decidir nada, mulher nenhuma deseja a morte de um filho, muito menos causá-la. As mulheres que por qualquer motivo, infelizmente, passaram por essas experiências, acredito que necessitam de cuidados, tratamento, e acima de tudo de autoperdão, e mudança de mentalidade, ajudando outras no trabalho de conscientização para que não venham cometer os mesmos erros. As que afirmam não terem se arrependido, essas são as que mais necessitam de cuidados.

Não deixemos que homens,  ou seja quem for, tratem nossos corpos como se fôssemos bonecas infláveis de sex shop, nem mesmo as casadas, é impossível desligar o corpo da mente, fomos feitas para sermos amadas e respeitadas, e não podemos mais aceitar outro tratamento para conosco, isso não é rebeldia, isso é amor próprio. Não deixemos a sociedade, a hipocrisia esmagar nossa alma, a ponto de nos levar a matar um filho. Sejamos livres, à custa de luta, decência, e honra. A verdadeira liberdade é a paz.

 

* Jackeline de Lara, graduada em Pedagogia, especialista em Educação Especial e em  Educacão Infantil e Séries Iniciais, proprietária do Espaço Kids. Casada e mãe de duas lindas filhas.


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